Morcegos reagem de forma diferente às alterações climáticas. Uns hibernam mais tempo, outros seguem o caminho inverso



Com épocas quentes cada vez mais longas em muitas partes do mundo e com invernos com cada vez menos dias, muitos animais estão a encurtar os seus períodos de hibernação. Mas não todos.

Investigadores da Universidade de Greifswald, na Alemanha, debruçaram-se (literalmente) sobre um poço com 60 metros de profundidade no noroeste do estado alemão de Renânia do Norte – Vestefália, usado como local de hibernação por duas espécies de morcegos: o morcego-de-água (Myotis daubentonii) e o morcego-de-franja (Myotis nattereri).

O objetivo era perceber como é que as alterações climáticas estão a afetar a hibernação desses mamíferos aladas. Num artigo publicado este mês na revista ‘Global Change Biology’, revelam que os morcegos-de-água nesse local estão a entrar em hibernação cerca de 15 dias antes do que faziam há 13 anos. Apesar disso, não “despertam” mais cedo.

No caso dos machos adultos, registou-se uma antecipação média de 24 dias. Contudo, os morcegos não aumentam as suas reservas de gordura, o que significa que ficam mais tempo em hibernação com as mesmas reservas. À medida que as alterações climáticas de agravam, esse desfasamento entre tempo de hibernação e reservas de gordura pode vir a representar um risco para os morcegos-de-água.

Por outro lado, os morcegos-de-franja, que partilham esse poço alemão com os morcegos-de-água, reduzem o tempo que passam a hibernar em resposta a invernos mais quentes e curtos, à semelhança de muitos outros mamíferos.

Gabriella Krivek, primeira autora do estudo, sugere uma possível explicação para o comportamento peculiar dos morcegos-de-água. Segundo a cientista, os insetos são a principal presa da espécie, que passam o seu estado larval em corpos de água e assumem as suas formas adultas, em nuvens de asas, praticamente ao mesmo tempo, um verdadeiro banquete para os morcegos.

Acontece que esses eventos estão associados ao aquecimento sazonal dos corpos de água, pelo que tendem a acontecer cada vez mais cedo, de forma que os morcegos-de-água antecipam também os seus calendários de hibernação. Depois desses explosões de insetos, de que vale continuar “acordado” quando já não há alimento para restabelecer as reservas de energia antes de hibernar?

Krivek diz que os resultados deste estudo são importantes para a conservação dos morcegos, uma vez que os períodos de hibernação de algumas espécies, como os morcegos-de-água, podem estar a mudar por causa das alterações climáticas, e as leis que os protegem, e impedem, por exemplo, a perturbação de certos locais em certo períodos, devem também ser adaptadas à nova realidade.






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