Movimento de investigação global apoiado pela ONU mostra benefícios da localização dos gigantes do oceano para a conservação marinha

Uma equipa de cientistas internacionais localizou mais de 100 espécies de megafauna marinha, identificando os locais mais críticos nos nossos oceanos globais para melhores esforços de conservação, de acordo com uma nova investigação da Universidade Nacional Australiana (ANU).
O projeto de investigação global MegaMove, apoiado pela ONU, envolve quase 400 cientistas de mais de 50 países, mostrando onde a proteção pode ser implementada especificamente para a conservação da megafauna marinha.
As atuais áreas de proteção marinha incluem apenas 8% do total dos oceanos do mundo, que o Tratado do Alto Mar das Nações Unidas pretende expandir para 30%.
A investigação concluiu que os objetivos do atual Tratado – assinado por 115 países mas ainda por ratificar – constituem um passo na direção certa e serão fundamentais para ajudar à conservação, mas são insuficientes para cobrir todas as áreas críticas utilizadas pela megafauna marinha ameaçada, sugerindo que são também necessárias medidas adicionais de atenuação das ameaças.
Algumas das criaturas mais conhecidas do oceano – conhecidas como megafauna marinha – incluem tubarões, baleias, tartarugas e focas. São tipicamente predadores de topo com papéis críticos nas cadeias alimentares marinhas, mas enfrentam ameaças crescentes devido ao impacto ambiental dos seres humanos.
A ecologista marinha da ANU e autora principal da investigação, a Professora Associada Ana Sequeira, disse que o objetivo do estudo é identificar áreas utilizadas pela megafauna marinha para comportamentos importantes como a procura de alimentos, o repouso e os corredores migratórios, e que estas áreas só podem ser encontradas com base nos seus padrões de movimento rastreados.
“Descobrimos que as áreas utilizadas por estes animais se sobrepõem significativamente a ameaças como a pesca, o transporte marítimo, o aquecimento das temperaturas e a poluição por plásticos”, afirma.
“O objetivo de proteção de 30 por cento é considerado útil, mas insuficiente para proteger todas as áreas importantes, o que significa que são necessárias estratégias de mitigação adicionais para aliviar as pressões para além das áreas que serão protegidas”, acrescenta.
A investigação também está ligada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, ao Objetivo 14 sobre a água e, especificamente, ao Objetivo A do Quadro Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal para travar a extinção induzida pelo homem de espécies ameaçadas.
A Professora Associada Sequeira recebeu o Prémio Honorífico da Academia Australiana de Ciências de 2024 devido às suas notáveis contribuições para a biologia marinha, trabalhando especificamente com grandes criaturas marinhas como o tubarão-baleia e revelando as suas distribuições globais.
É também a diretora de investigação e fundadora do MegaMove, um projeto científico global que lançou em 2020.
“O MegaMove reúne uma rede internacional de investigadores para fornecer investigação inovadora com vista a promover a conservação global da megafauna marinha”, sublinha.
“A nossa investigação mostra que, para além das áreas protegidas, a implementação de estratégias de mitigação, como a alteração das artes de pesca, a utilização de diferentes luzes nas redes e esquemas de tráfego para navios, será fundamental para aliviar a atual pressão humana sobre estas espécies”, adianta.
O coautor do estudo, Jorge Rodríguez, do Instituto de Física Interdisciplinar y Sistemas Complejos, acrescenta: “Delineámos as principais áreas para uma proteção de 30%, classificando-as com base na sua utilização por espécies da megafauna marinha.
“A nossa análise identifica as áreas do oceano global que estas espécies estão a utilizar como residências ou corredores migratórios. Concentrámo-nos especificamente em classificar melhor as áreas utilizadas para estes comportamentos importantes pelo maior número de espécies”, revela.
“Mas a conclusão é que, mesmo que a proteção total de 30% fosse selecionada em áreas-chave utilizadas pela megafauna marinha, continuaria a não ser suficiente para as conservar”, conclui Sequeira.
A investigação foi publicada na revista Science.