Mudanças climáticas já estão a prejudicar a saúde das crianças, diz relatório



As mudanças climáticas já prejudicam a saúde das crianças em todo o mundo, com ameaças de impactos ao longo da vida, de acordo com o relatório internacional Lancet Countdown 2019 (Contagem Regressiva da Lancet), publicado esta segunda-feira.

Se o mundo continuar no actual padrão económico de altas emissões de carbono e mudanças climáticas, o documento aponta que uma criança nascida hoje enfrentará um planeta em média 4° C mais quente até os seus 71 anos, o que ameaçaria sua saúde em todas as fases da vida.

“A mensagem chave deste relatório global é que precisamos de estar atentos às mudanças climáticas já, para que as crianças, no futuro, não sejam tão afectadas. As crianças vão ser afetadas, mas para que não sejam tão afetadas”, disse a médica Mayara Floss, uma das autoras do relatório no Brasil.

O impacto da poluição do ar deve piorar nos próximos anos, mostra o relatório. O fornecimento de energia derivada do carvão, por exemplo, triplicou no Brasil nos últimos 40 anos; ao mesmo tempo que os níveis perigosos de poluição atmosférica ao ar livre contribuíram para 24 mil mortes prematuras em 2016. O projecto é uma colaboração de 120 especialistas de 35 instituições, incluindo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Banco Mundial e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ligada ao Ministério da Saúde brasileiro.

“Longas secas, chuvas excessivas e incêndios não controlados estão a agracar os efeitos sobre a saúde. Impulsionado em parte pelas mudanças climáticas, o crescimento contínuo do dengue pode tornar-se incontrolável em breve – a incidência triplicou desde 2014. Lamentavelmente, o desmatamento de florestas maduras está a aumentar novamente, assim como o uso de carvão. Não podemos desperdiçar o histórico de sucesso conquistado com tanto esforço”, disse Mayara.

Segundo o relatório, as crianças são as que mais sofrerão com o aumento de doenças infecciosas, como o dengue. “Sabemos que a capacidade do mosquito do dengue de transmitir doenças tem aumentado muito. Este é um dado muito alarmante. E isto está relacionado às mudanças climáticas e ao aumento da temperatura”, disse Mayara.

Ainda de acordo com o documento, eventos climáticos extremos vão intensificar-se na idade adulta das pessoas nascidas no presente. Em todo o mundo houve um aumento de 220 milhões de pessoas acima de 65 anos expostas a ondas de calor em 2018, em comparação com 2000. Em relação a 2017, a alta foi de 63 milhões.

Mitigação de impactos

O documento tem o objectivo de oferecer recomendações políticas aos decisões para mitigação dos impactos. Uma delas é que as diretrizes do Acordo de Paris sejam cumpridas de forma a limitar o aquecimento a um nível bem abaixo de 2 °C, o que poderá permitir que uma criança nascida hoje cresça em um mundo que atingirá emissões zero até seu 31º aniversário.

Os autores do relatório alertam que para que o mundo atinja as metas climáticas da Organização das Nações Unidas e proteja a saúde da próxima geração, o cenário energético terá que mudar de forma drástica e rápida: apenas um corte anual de no mínimo 7,4% nas emissões fósseis de CO2 entre 2019 e 2050 limitará o aquecimento global à meta de 1,5 °C, considerada a mais ambiciosa.

Além da eliminação da energia a carvão, o relatório traz outras acções prioritárias para mudar os rumos do impacto das mudanças climáticas na saúde, como aumentar os sistemas ativo e público de transporte acessível, económico e eficiente, especialmente a pé e de bicicleta, com a criação de ciclovias e incentivo ao aluguer ou compra de bicicletas.

Outra acção é assegurar que as maiores economias do mundo cumpram os compromissos internacionais de financiamento climático de 100 mil milhões de dólares por ano até 2020 para ajudar os países menos desenvolvidos.





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