Mundo pode perder 150 mil hectares de mangal até 2100 e milhares de milhões de euros em serviços de ecossistema

Até 2100, a área global de mangal poderá ser reduzida em cerca de 150 mil hectares devido ao aquecimento dos oceanos se não se reduzir urgentemente as emissões de gases com efeito de estufa.
A degradação desses ecossistemas será acompanhada pela perda de perto de 23 mil milhões de euros por ano em serviços por eles prestados, como controlo de inundações, proteção contra a erosão costeira, proteção dos stocks de peixe e sequestro de carbono.
Num artigo publicado este mês na revista ‘Environmental Research: Climate’, cientistas dos Estados Unidos da América, do México e da Alemanha alertam que a subida da temperatura dos oceanos, causada pelas alterações climáticas, deitará por terra, até ao final do século, décadas de restauro dos mangais. A Ásia será a região do planeta mais afetada, com aproximadamente dois terços das perdas previstas.
Os mangais são ecossistemas costeiros peculiares que ocorrem em zonas de contacto entre o mar e a terra. São formados por árvores tolerantes ao sal cujas raízes estão acima do solo, criando redes intricadas que servem de abrigo a muitas espécies de animais e como berçários, uma vez que os pequenos animais estão protegidos de predadores maiores que naõ conseguem navegar pelo labirinto radicular.
Além disso, são importantes sumidouros de carbono, com uma absorção dez vezes superior a muitas florestas tropicais. Algumas estimativas apontam para uma capacidade de armazenamento de mil toneladas de carbono por hectare.
Esta investigação apoiou-se na análise de imagens de satélite da cobertura de mangais entre 1996 e 2020, combinando-as com dados sobre a temperatura da superfície oceânica e indicadores económicos pelo mundo fora.
Os cientistas dizem que embora as projeções apontem para a redução da destruição dos mangais e o aumento dos esforços que visam a sua conservação e restauro, o aquecimento marinho será mais forte num cenário futuro de emissões elevadas, neutralizando totalmente esses ganhos.
Katharine Ricke, da Instituição Oceanográfica Scripps, da Universidade da Califórnia em San Diego, e coautora do estudo, explica que “as forças socioeconómicas e políticas são atualmente fortes o suficiente para cancelarem os danos climáticos aos mangais, resultando em estabilidade em vez de em declínio”.
No entanto, a investigadora diz que isso não acontecerá a não ser que haja reduções significativas nas emissões globais de gases com efeito de estufa.
“Temos de continuar a proteger estes ecossistemas, porque eles tanto nos ajudam a combater as alterações climáticas como a adaptar-nos aos seus impactos”, salienta Ricke.