“Não há dúvida nenhuma de que o futuro, agora, é elétrico”, diz presidente da Mobi.e



No final do ano passado, foi aprovado, no plano europeu, um regulamento que pretende robustecer a mobilidade elétrica a nível regional, procurando, destacadamente, aumentar a capacidade de carregamento público de veículos elétricos nas cidades e autoestradas europeias.

O regulamento, conhecido como AFIR (Alternative Fuels Infrastucture Regulation, em inglês), entrou em vigor em Portugal no passado dia 13 de abril e é com grandes expectativas que os agentes do setor da mobilidade elétrica olham para este quadro regulatório que poderá ditar o futuro dos transportes.

“As entidades europeias decidiram que era necessário implementar [este regulamento], uma vez que muitos dos países europeus ainda não tinham feito uma transição energética de acordo com aquilo que são as necessidades para atingirmos a neutralidade carbónica até 2050”, explicou, em entrevista à ‘Green Savers’, Luís Barroso, presidente da Mobi.e, à margem de um evento da organização que se realizou esta sexta-feira, em Lisboa.

Contudo, Portugal já desde 2010 que vem trilhando o percurso que agora a União Europeia (UE), com o AFIR, quer estender a todos os Estados-membros. Por isso, o responsável diz que “já estamos habituados a isso”, descrevendo mesmo como “visionária” a regulamentação que o país adotou já há 14 anos.

Um dos principais objetivos do AFIR é facilitar o pagamento nos pontos de carregamento elétricos, como através de cartões bancários. “Tivemos a sorte única de sermos um país que em 1980 inventou o sistema multibanco, e, portanto, basicamente o que nós fizemos foi replicá-lo na mobilidade elétrica”, recorda Luís Barroso.

Entre os desafios que se põem agora ao setor com o novo regulamento, o responsável aponta a criação de uma rede de carregamento para veículos pesados, mas considera que “partimos em vantagem”. Aliás, Giovanni Ravina, CEO da Atlante Ibéria, a homóloga ibérica da Mobi.e, disse, no mesmo evento, que Portugal era “uma ilha” no que toca à mobilidade elétrica, por se ter antecipado aos demais países europeus em termos de regulamentação, e que “está muito avançado nesse mercado”.

O AFIR estabelece como meta até 2030 estações de carregamento para pesados com uma potência mínima de 350 kW a cada 60 quilómetros ao longo das principais autoestradas que atravessam o território da UE. Algo semelhante é colocado para os veículos de passageiros e comerciais ligeiros, com postos de carregamento com uma potência de, pelo menos, 150 kW a cada 60 km.

Recorde-se que, num estudo de 2023 do Automóvel Club de Portugal (ACP), 43% dos automobilistas reconhecem a dificuldade em encontrar locais para carregar carros elétricos fora de casa.

Ademais, Luís Barroso reconhece que a implementação do AFIR trará outros desafios ao setor, especialmente ao nível do financiamento. “Vamos ter de acelerar a implementação de postos de carregamento”, salienta, acrescentando que “para acompanharmos este ritmo de crescimento [do mercado da mobilidade elétrica], as redes também têm de crescer”.

Para tal, “temos de ligar à infraestrutura da rede nacional de energia, temos de ter os gestores dos espaços, como os municípios, também muito focados nisto para criarmos mecanismos mais céleres de instalação de postos e, com isso, conseguimos acompanhar a rapidez desta transição de acordo com os critérios do AFIR”.

Luís Barroso considera que o mercado da mobilidade elétrica está em crescimento em Portugal, indicando que Portugal detém um grande número de registos de carros elétricos que o destacam de outros grandes países europeus. “Agora, obviamente, temos de continuar a apoiar esta transição”, afirma, por exemplo, “através de subsídios e de medidas facilitadoras dessa mesma transição”.

A cooperação internacional é também um dos principais pilares do crescimento da mobilidade elétrica. Neste evento, a Mobi.e e a Atlante assinaram um memorando de entendimento para ser possível “uma interoperabilidade entre a rede da Atlante em Espanha e a rede portuguesa”, de forma que os automobilistas possam ‘atestar’ os seus carros elétricos “com a mesma forma de pagamento” de ambos os lados da fronteira nos postos dessas entidades.

Luís Barroso recordou que o planeta está em crise, que a comunidade científica tem sistematicamente alertado o mundo para a necessidade de mudarmos a forma como nele vivemos e que “são dados alarmantes e que não podemos ignorar”. Como tal, “para um país como Portugal a transição energética deve ser um desígnio nacional” e que, com os mecanismos e metas impostas pelo AFIR, “não há dúvida nenhuma de que o futuro, agora, é elétrico”.





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