Não há terra sem o mar: Recuperar e renaturalizar as ilhas é fundamental para proteger a vida marinha



As ilhas contêm alguns dos ecossistemas mais biologicamente diversos do planeta, albergando grandes quantidades de espécies raras de plantas e de animais, bem como comunidades humanas e culturas, constituindo ‘oásis’ de vida sem paralelo.

No entanto, espécies invasoras que perturbam, ou até destroem, as delicadas redes ecológicas insulares ameaçam não só os ecossistemas em terra, mas também no mar.

Por isso, um grupo de investigadores propõe uma nova forma de olhar a conservação dos ecossistemas marinhos, salientando a importância de recuperar e renaturalizar as ilhas, isto é, fazer com que essas parcelas de terra ‘perdidas’ no mar possam readquirir as suas características naturais e voltar a tornar-se ‘selvagens’.

Mergulhador nas águas do arquipélago de Palau Crédito: arhnue / Pixabay

Num artigo divulgado na ‘Proceedings of the National Academy of Sciences’, mais de 20 cientistas e ambientalistas dos Estados Unidos, do Reino Unido e da Nova Zelândia reconhecem que existe uma “ligação crucial entre as ilhas e os ecossistemas marinhos” e defendem uma nova abordagem à conservação que se foque no eixo terra-mar, em vez de considerar um e outro separadamente.

Os especialistas explicam que “ecossistemas terra-mar saudáveis dependem de um fluxo de nutrientes dos oceanos para as ilhas e das ilhas para os oceanos”, um processo dinâmico no qual aves marinhas, focas e caranguejos desempenham um papel essencial.

Contudo, algumas dessas espécies estão sob grande pressão devido à presença de invasoras nos seus habitats insulares, empurrando as nativas, que os cientistas designam por ‘espécies contectoras’ por ligarem a terra e o mar, para a extinção, a nível local ou a nível global.

Por isso, a perda de ‘espécies conectoras’, dizem, pode resultar no colapso de ecossistemas, terrestres ou marinhos, pelo que defendem que a remoção de espécies invasoras das ilhas “é uma das melhores ferramentas que temos para restaurar plantas, animais e ecossistemas nativos”.

Penny Becker, uma das autoras do estudo que pertence à organização ambientalista Island Conservation, assinala que “as ilhas e os oceanos estão ligados”, algo que “as pessoas que vivem nas regiões costeiras há muito sabem”. Por isso, diz que “ligar os esforços em terra, incluindo a remoção de espécies invasoras das ilhas, ao restauro e proteção dos mares oferece uma oportunidade significativa para proteger e recuperar quer as ilhas, quer as regiões costeiras”.

Wes Sechrest, outro dos autores e dirigente da organização Re:wild, considera que esta investigação “é incrivelmente útil” ao permitir priorizar áreas de conservação e recursos para que se possam alcançar os maiores impactos.

O artigo aponta que ilhas com grandes quantidades de precipitação e que sejam pouco fustigadas pelas ondas, por exemplo, como a ilha Floreana, no arquipélago das Galápagos, ou a ilha Sonsorol, em Palau, apresentam uma grande potencial para projetos de conservação que tenham como base esta ligação entre os ecossistemas em terra e no mar, desde que sejam removidas as espécies invasoras que perturbam o equilíbrio ecológico natural.

“As ilhas Sonsorol e Floreana são apenas duas das muitas ilhas que têm um grande potencial para recuperar os ambientes marinhos”, diz Kate Brown, que também assinou o artigo, e salienta que “priorizar a recuperação de ilhas em todo o mundo pode ser significativamente benéfico para a biodiversidade global, em terra e no mar”.

Alan Friedlander, co-autor e líder científico do projeto ‘Pristine Seas’ da National Geographic, aponta que “poucas vezes nos apercebemos de que o que fazemos em terra afeta a saúde do oceano” e que ainda menos nos damos conta de que o que acontece no mar tem impactos nas espécies terrestres.

“Esta forte interconexão entre terra e mar era bem conhecida pelos habitantes indígenas das ilhas”, explica, pelo que a recuperação “deste conhecimento tradicional”, lado a lado com a ciência dos dias de hoje, poderá ajudar revitalizar estes “ecossistemas únicos”.





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