Nem todas as espécies fogem do calor: Nova hipótese explica movimentos surpreendentes na natureza

À medida que o clima aquece, os cientistas esperam que os animais e as plantas se desloquem para zonas mais frias – para cima, em direção aos polos, ou para águas mais profundas. Mas, numa reviravolta surpreendente, descobriram que mais de um terço das espécies estão a fazer o contrário e, em vez disso, dirigem-se para baixo, para o equador ou para águas menos profundas. Porquê?
Trata-se de um fenómeno que os investigadores há muito se interrogam, mas um novo estudo da UNSW Sydney propõe uma explicação: as mudanças inesperadas podem não ser motivadas pela temperatura, mas sim por alterações na forma como as espécies interagem umas com as outras.
A equipa, que inclui cientistas da UNSW, da UTS e da Curtin University, argumenta que, à medida que o clima muda, também mudam as relações entre as espécies – como predador e presa, planta e polinizador, ou concorrente e coabitante.
Se as condições na extremidade mais quente do habitat de uma espécie se tornarem mais acolhedoras – por exemplo, porque os predadores se afastam ou porque as espécies úteis se instalam – então as espécies podem começar a expandir-se para essas áreas anteriormente inóspitas.
A autora principal do estudo, Inna Osmolovsky, da UNSW Sydney, afirma que “o que mais me surpreendeu foi a pouca atenção que as mudanças contra-intuitivas de distribuição recebem. Estudar este fenómeno é importante se quisermos conservar o maior número possível de espécies”.
O estudo identifica três formas principais de ocorrência destas mudanças:
- Menos inimigos – Predadores, parasitas ou concorrentes podem retirar-se ou desaparecer, permitindo que as espécies recuperem o território.
- Mais amigos – O aumento de parceiros mutualistas, como polinizadores ou dispersores de sementes, pode tornar novas áreas habitáveis.
- Relações alteradas – Algumas interações prejudiciais podem passar a ser benéficas sob novas condições climáticas.
- A compreensão destas dinâmicas é crucial para os conservacionistas e gestores de terras que tentam prever a reação da vida selvagem ao aquecimento global. Atualmente, muitos modelos baseiam-se fortemente em dados climáticos, mas ignoram a complexa rede de interações entre espécies que também moldam os habitats.
O estudo foi publicado na revista Global Change Biology.