O aroma e o aspeto das flores não são as únicas coisas que atraem os polinizadores



Os polinizadores são animais fundamentais para a reprodução das plantas com flor e para a saúde dos ecossistemas. Apesar de espécies de vários grupos desempenharem esse papel, os insetos são os protagonistas dessa relação.

No mundo das flores, o aroma e o aspeto visual são fatores centrais, atraindo os polinizadores, que se alimentam do seu néctar e pólen e carregam consigo pequenas bolsas polínicas nos seus corpos, atuando como agentes fundamentais da reprodução das espécies vegetais.

No entanto, há outros fatores envolvidos e que influenciam a decisão dos insetos de escolherem visitar uma flor em vez de outra.

Os gorgulhos, tal como as abelhas, as borboletas e as moscas-das-flores, são polinizadores, animais de grande importância para a reprodução das plantas com flor, uma vez que transportam os grãos de pólen nos seus corpos quando procuram alimento.
Foto: Kaldari / Wikimedia Commons

Uma equipa de investigadores dos Estados Unidos da América, ao estudar a relação entre os gorgulhos da espécie Rhopalotria furfuracea e as suas interações de polinização com a planta Zamia furfuracea na Flórida, perceberam que também a humidade é um fator de peso, tão importante quanto o odor.

“O mundo das interações plantas-insetos mudou drasticamente com o trabalho que foi feito sobre os indicadores visuais e odoríferos”, explica Shayla Salzman, da Universidade de Cornell e primeira autora do artigo publicado recentemente na ‘Current Biology’.

Shayla Salzman, da Universidade de Cornell e primeira autora do artigo.
Foto: Universidade de Cornell

A cientista destaca que “só agora começamos a perceber como muitos outros fatores estão a desempenhar um papel na reprodução das plantas e a impactar a tomada de decisão dos insetos”, bem como o sucesso da polinização.

No passado, pensava-se que a humidade libertada pelas plantas com flor era apenas o subproduto do seu funcionamento orgânico e que não teria influência direta nem intencional nas suas estratégias de atração de polinizadores. “Antes da nossa investigação, a humidade era vista como apenas o resultado da evaporação do néctar, uma nota de rodapé”, afirma Ajinkya Dahake, investigadora da mesma instituição e outros dos autores.

Mas o trabalho agora divulgado vem reescrever o que se sabia acerca das relações polinizadores-plantas. “O que descobrimos é que este é um processo ativo da flor, que acontece através de células especializadas”, sublinha, acrescentando que as plantas, em particular a Zamia furfuracea, podem mesmo ter desenvolvido a capacidade para controlar a libertação de humidade repleta do aroma do seu néctar, “porque atrai os polinizadores”.

Numa altura em que as alterações climáticas estão a fazer cair a pique os níveis de humidade em muitas regiões do planeta, “é crucial percebermos como os insetos utilizam toda essa informação nas suas interações com as plantas”, observa Salzman.

A cientista diz que esse conhecimento poderá, por exemplo, ajudar os agricultores a promoverem a humidade nas suas plantações e, dessa forma, atrair os polinizadores, que são de extrema importância para esse tipo de atividade. Estima-se, por exemplo, que até 80% das culturas agrícolas na União Europeia dependem da ação destes animais polinizadores, pelo que impulsionar a sua presença e criar as condições ideias para esse serviço são centrais para garantir a segurança alimentar, e também económica, de muitos.

Embora se saiba que os insetos são capazes de detetar mesmo as mais ligeiras alterações nos níveis de humidade no ar – ao passo que para os humanos as variações têm de ser bastante maiores par que possamos dar por elas –, ainda há muito para descobrir sobre como a humidade influencia o comportamento desse grupo.





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