O Desafio de Portugal na Liderança da Transição Energética
Por Patrícia Fortes, Investigadora do CENSE, NOVA FCT; Especialista na área da Economia Energética
Neste Dia Internacional das Energias Limpas, é impossível não sentir orgulho no que Portugal alcançou: somos líderes europeus em eletricidade renovável. Nos últimos anos, mais de 60% da nossa eletricidade tem sido de fontes renováveis, atingindo um recorde de 70% em 2024, um salto notável face aos menos de 30% registados há 20 anos. Este progresso deve-se à conjugação de avanços tecnológicos, redução de custos das renováveis e, sobretudo, ao compromisso nacional em reduzir a dependência energética externa e as emissões de gases com efeito de estufa.
As energias renováveis têm também protegido Portugal da volatilidade dos mercados, resultando em preços de eletricidade no mercado grossista inferiores aos de muitos países europeus. Esta vantagem competitiva é essencial para uma economia pequena como a nossa, que deve continuar a investir numa base energética renovável.
No entanto, os desafios permanecem. Um dos mais prementes é o impacto ambiental e social de grandes projetos, como o solar fotovoltaico, que apesar de cruciais, geram conflitos locais. Alternativas descentralizadas, embora mais complexas e dispendiosas, oferecem maior inclusão e menor impacto ambiental.
Outro desafio é a expansão das energias renováveis para além da eletricidade. Portugal comprometeu-se, no Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC), a atingir 51% de renováveis nos setores de uso final até 2030, face aos 35% atuais. Nos transportes, o setor mais emissor, as preocupações são crescentes. Emitimos mais hoje do que há cinco anos, e a meta de 29% de renováveis até 2030 parece, para já, quase inalcançável considerando os 9% registados em 2022.
Para cumprir estas metas, é urgente implementar medidas eficazes e evitar sinais contraditórios, como propostas de expansão do gás natural, atrasos na ferrovia ou dificuldades no acesso das famílias a apoios para soluções renováveis, como painéis solares ou bombas de calor. Estas incoerências enfraquecem o ritmo de crescimento das renováveis nos setores de uso final.
O contexto internacional também adiciona novos desafios, como o apoio de Donald Trump aos combustíveis fósseis, que ameaça desacelerar o crescimento global das renováveis. Este cenário exige uma resposta robusta da União Europeia e de Portugal, com ações concretas e coerentes.
Na COP28, realizada no Dubai em 2023, os governos comprometeram-se a triplicar a capacidade renovável e duplicar os ganhos de eficiência energética. Este último ponto leva a uma reflexão essencial: a única energia verdadeiramente limpa é aquela que não é consumida. Promover a eficiência energética e mudar hábitos de consumo deve ser central na nossa estratégia, assegurando um crescimento mais sustentável das renováveis.
Portugal fez progressos significativos, mas o caminho para cumprir os objetivos climáticos e energéticos está longe de estar concluído. É crucial acelerar o passo, garantindo que as metas sejam atingidas de forma racional e eficiente.