O desenvolvimento está a envenenar-nos aos poucos
As técnicas de análise de última geração passaram a ter capacidade para detectar no nosso sangue e urina substâncias químicas que antes passavam despercebidas. Esta novidade pôs a descoberto uma realidade que decorre do nosso estilo de vida, baseado no consumo quotidiano de cosméticos, medicamentos, detergentes, insecticidas, produtos de higiene e até alimentos que contêm substâncias nocivas para a nossa saúde e o meio ambiente.
Segundo uma reportagem publicada recentemente no El País, O problema é que à falta de um consenso científico sobre as doses de concentração de químicos que são perigosas para a saúde humana e o ambiente, há milhares de substâncias contaminantes que continuam a circular no mercado de consumo. Os cientistas já não duvidam de que muitas destas substâncias que consumimos directa ou indirectamente estão na origem do aumento de casos de cancro, de diabetes, infertilidade e diversas doenças degenerativas. Nicolás Olea, especialista em substâncias contaminantes emergentes que actuam como disruptores endócrinos, diz que “a situação é muito séria. Estamos expostos a substâncias capazes de alterar o nosso sistema hormonal e causar problemas de saúde com efeitos irreversíveis”.
Miguel Porta, investigador e catedrático em Saúde Pública na Universidade Autónoma de Barcelona por outro lado, explica: “Antigamente acreditava-se que tudo dependia da dose. Dizia-se: ‘O veneno é a dose’. Mas hoje sabemos que as substâncias contaminantes podem também ser nocivas em doses baixas, desde que estejamos expostos a elas de forma continuada”. E esta é uma realidade para que ninguém, no mundo industrializado, se preparou.
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