O dever da indústria no combate às alterações climáticas
Por: João Guedes, Analista em Gestão e Organização da Energest – Engenharia e Sistemas de Energia
Ao analisarmos os relatórios de progresso acerca das mudanças climáticas dos últimos anos, deparamo-nos com uma realidade desanimadora. A incapacidade de conter o aumento da temperatura do nosso planeta terá consequências extremamente prejudiciais para a humanidade.
Um mundo em recuperação com emissões elevadas:
Voltemos ao início de 2022. O mundo recuperava de uma pandemia devastadora e as economias estavam a restabelecer. No entanto, se pensávamos que as coisas estavam a melhorar no que diz respeito às alterações climáticas havia uma adversidade. As emissões de dióxido de carbono (CO2) provenientes da produção de eletricidade e calor atingiram o nível mais alto de sempre, levando a Agência Internacional de Energia (AIE) a lançar um apelo urgente à ação.
O desafio da neutralidade carbónica em sete anos:
Esta foi uma chamada de alerta e um apelo à ação. Com apenas sete anos para cumprir o objetivo de manter o aquecimento global abaixo de 1.5°C, a urgência é evidente. As ações necessárias para atingir zero emissões de CO2 no setor industrial são desafiadoras, mas não temos alternativa se não fazer frente ao desafio.
A eficiência energética como solução crucial:
A otimização da eficiência, especialmente nos sistemas de transformação de energia industriais, nomeadamente na produção e utilização de vapor, desempenha um papel crucial nesta procura por um futuro mais limpo e seguro.
Porquê que a otimização dos sistemas de vapor é fundamental:
O vapor é uma fonte naturalmente eficiente de energia térmica, mas muitas vezes os sistemas de vapor não são otimizados na sua eficiência. As barreiras para a otimização incluem falta de informação, recursos financeiros limitados, falta de apoio da gestão de topo e receios de perturbações na produção.
Otimização do sistema de vapor:
Um relatório da UNIDO – Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial identificou algumas medidas tecnicamente viáveis para melhorar a eficiência dos sistemas de vapor, tais como: otimização da combustão; otimização do isolamento térmico de tubagens do vapor, válvulas, acessórios e tanques; otimização da descarga da caldeira e recuperação de calor da descarga da caldeira; implementação de um programa eficaz de manutenção de purgadores de vapor; otimização da recuperação de condensados e recuperação de energia térmica dos gases de combustão através da construção de um economizador e/ou aquecedor de ar. A partir da economia de energia, a implementação destas medidas poderá resultar em reduções significativas nas emissões de CO2.
Otimização dos sistemas de ar comprimido:
Os sistemas de ar comprimido (SAC) representam uma fatia significativa do consumo de eletricidade na indústria europeia, contribuindo com mais de 10% do total do setor. Em Portugal, estima-se que estes sistemas consumam cerca de 2,8 TWh por ano na indústria. Assim, é fundamental assegurar a sua eficiência a fim de reduzir custos.
Este aspeto reveste-se de particular importância, uma vez que o ar comprimido é utilizado em todos os setores industriais. Existem várias medidas de otimização possíveis, tais como: melhorar a sequência de ativação dos compressores, identificar oportunidades de poupança no consumo, detetar fugas e utilizações anómalas, bem como considerar alternativas na configuração central, como a renovação de compressores.
Outras práticas a adotar na indústria com vista à preservação ambiental:
Na gestão de resíduos é fundamental estabelecer sistemas que priorizem a reciclagem e a minimização do desperdício, promovendo a reutilização de materiais.
Além disso, é essencial adotar práticas responsáveis no uso da água, monitorizar e reduzir o consumo de água nas operações industriais e, sempre que possível, o tratamento adequado das descargas tendo em vista a sua reciclagem.
Para reduzir o impacto ambiental, é importante investir em fontes de energia renovável, como a biomassa, o sol e o vento, diminuindo, assim, a dependência de combustíveis fósseis e contribuindo para a redução das emissões de carbono.
Estas medidas são duplamente desejáveis. Elas demonstram um compromisso com a sustentabilidade e trazem quase sempre benefícios economicamente relevantes.
O tempo está a esgotar-se, mas ainda podemos fazer a diferença na luta contra as alterações climáticas. Com a tecnologia e o conhecimento disponíveis, não há desculpas para adiar as mudanças necessárias. É hora de agir e garantir que a “Corrida para o Zero” se torne uma corrida rápida em direção a um mundo mais limpo e seguro.