O formato do focinho dos cães pode afetar a função cerebral e a forma como dormem
Os cães com focinho mais achatado parecem ser, nos dias que correm, os preferidos por aqueles que seguem as tendências, mesmo no que diz respeito a animais de companhia.
O buldogue-francês, por exemplo, é uma raça que se vê um pouco por todo o lado, e o fenómeno dos cães com focinhos mais curtos, ou braquicéfalos, também já ‘contagiou’ Portugal.
Num artigo publicado na revista ‘Brain Structure & Function’, uma equipa de investigadores da Hungria revela que os focinhos achatados, embora esteticamente apelativos para algumas pessoas, têm consequências negativas para o animal, designadamente em termos da morfologia do cérebro, de dificuldades respiratórias e de problemas de sono.
De acordo com os investigadores, cães com caras achatadas tendem a viver, em média, menos três a quatro anos do que outros tipos de cães e “frequentemente não chegam à idade adulta”, dizem em comunicado.
Mas a equipa quis mergulhar mais a fundo na questão do sono. Para isso, analisou a forma como 92 cães dormem, recorrendo para tal à encefalografia.
“Queríamos investigar se os cães com caras achatadas dormem de forma diferente de outros cães, pois sabe-se que sofrem de privação de oxigénio devido a problemas respiratórios e, por isso, têm, uma menor qualidade de sono”, explica Zsófia Bognár, da Universidade Eötvös Loránd e uma das autoras do artigo.
Naquilo a que chamam de “laboratório do sono”, descobriram que os cães de focinho achatado tendem a dormir mais horas durante do dia do que os outros, sugerindo que essa é uma forma de compensar o sono atribulado durante a noite.
Ao estudarem fase REM do sono dos cães, em que a atividade cerebral é quase tanta como quando estamos acordados, mas o nosso corpo não se mexe (atonia muscular), percebeu-se que os cães de focinhos achatados, durante o sono, apresentavam um padrão de ondas cerebrais que sugere uma menor capacidade de aprendizagem, comparativamente a outros cães.
“Parece que os cães com focinhos achatados retiveram os padrões de sonos de quando eram cachorros, semelhante a recém-nascidos que passam mais tempo em sono REM”, aponta Enikő Kubinyi, outra das autoras do artigo.
A etóloga húngara considera que a seleção artificial de cães braquicéfalos, com “cabeças e olhos grandes, testas altas e narizes pequenos”, acontece porque os “nós, humanos, achamos esses traços irresistivelmente atrativos”. E esses traços fazem com que os cães, mesmo em adultos, continuem a ter um ar de cachorro.
Por isso, Kubinyi diz que “é possível que a seleção de cães para terem uma aparência mais de cachorro tenha também infantilizado a sua função cerebral”. Ainda assim, a investigadora assume que isso é, para já, especulação, e o que se sabe ao certo é que o formato da cabeça dos cães braquicéfalos “leva a alterações potencialmente prejudiciais na função cerebral”.