O fundo do mar cabe numa poça de maré
São nove de uma manhã cacimba quando João Castro, biólogo marinho da Universidade de Évora, guia o pequeno grupo que aderiu a uma das várias iniciativas paralelas propostas pelo Festival Músicas do Mundo, que arrancou no dia 20, em Porto Covo, e prossegue até 27, em Sines.
A maré baixa permite observar animais e algas, “utilizar o ambiente marinho como laboratório, como sítio de observação”, explica João Castro, responsável pela atividade, inserida no programa “Entremarés”, que envolve investigadores do CIEMAR – Laboratório de Ciências do Mar da Universidade de Évora, e do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente.
“Podemos estar aqui horas e horas a falar só à volta de uma poça de maré, é um mundo maravilhoso”, descreve, com entusiasmo.
A curiosidade dos seis anos enche Teresa de perguntas, a que João tenta dar resposta compreensível para a idade.
A criança aceita uma lupa para poder ver as cracas, vivas e mortas, e não se furta a pegar em búzios e mexilhões.
“Muitas vezes passamos por uma poça de maré e não ligamos muito, (…) estão ali umas algas, umas cracas, uns ouriços do mar… e há coisas espetaculares para estar aqui horas e horas a falar sobre elas”, realça João Castro.
O objetivo deste tipo de ações “é também sensibilizar as pessoas para a necessidade” de proteger e conservar o ambiente.
“É ir ao fundo do mar e ir também ao fundo dos seres vivos que habitam no mar, ao fundo em termos de conhecimento, para conhecer melhor, para os compreender melhor, porque para proteger, para conservar, que é muito importante, é também necessário compreender e conhecer”, considera o investigador.
Isabel Sobral é professora de biologia e geologia numa escola de Lisboa e já não é uma estreante nas iniciativas do “Entremarés”.
“Há sempre coisas a aprender e a aplicar depois com os alunos”, refere.
“Acho que para quem não é da área é uma boa oportunidade também para saber o que é que há aqui, entre marés, nesta zona (…), ir ao fundo do mar e ver o que é que podemos encontrar em termos de biodiversidade”, salienta.
Sair da sala de aula e observar no terreno é algo “extremamente importante”, constata, realçando que os alunos “ficam muito mais entusiasmados e muito mais motivados para o estudo das ciências e da biologia”.
Paralelamente aos concertos, a 24.ª edição do Festival Músicas do Mundo – organizado pela Câmara Municipal de Sines – propõe uma série de iniciativas paralelas, entre as quais outras três sobre o mundo marinho: “Percebes ou não percebes?”, hoje, às 10:00, na Avenida Vasco da Gama, em Sines; “Mamíferos e répteis marinhos: o que são e porque dão à costa?”, no dia 25, às 10:00, na Praia Vasco da Gama, em Sines; e “Reunião de família: o jogo das conchas de Moçambique”, dia 26, às 12:00, na Avenida Vasco da Gama, em Sines.
Há também uma série de propostas que partem da própria música, com os já habituais ateliês para crianças, sempre às 11:00, no Pátio das Artes (hoje com Joni Schwalbach e Vasco Martins, no dia 25 com Caamaño & Ameixeiras, no dia 26 com Fattú Djakité, e dia 27, com Moticoma).
À semelhança das edições anteriores, voltam também as visitas orientadas aos bastidores do festival, nos dias 25, 26 e 27, às 15:00, no Castelo.
Ontem, entre as 10:00 e as 13:00 e as 14:00 e as 17:00, o Centro de Artes de Sines acolhe uma oficina que resgata materiais de uso diário para a prática da gravura.
No exterior do equipamento cultural, vão decorrer sessões de contos nos dias 25, 26 e 27, às 15:00 e, no último dia do festival, Ana Sofia Paiva realiza um espetáculo para bebés, às 10:00.
A já tradicional Feira do Disco, do Livro e do Cartaz abriu ontem portas, às 16:00, ficando aberta até à meia-noite todos os dias até ao fim do Músicas do Mundo.
A artista brasileira Ana Frango Elétrico dará ali autógrafos no dia 26 de julho, às 20:00.
A exposição “Thalassa! Thalassa! O mar e o Mediterrâneo na obra de Sophia de Mello Breyner Andresen” estará em exibição no Centro de Artes de Sines, até 15 de outubro.