O futuro da agricultura pode estar no mar? Cientistas dizem que ‘quintas de algas’ podem ser a resposta para a crise alimentar mundial



As estimativas das Nações Unidas apontam que, em 2050, haverá 9,8 mil milhões de pessoas em todo o mundo, sendo que esse número deverá chegar aos 11,2 mil milhões no final deste século. Com o atual sistema de produção alimentar já sob grande pressão e com milhões de pessoas já em situação de fome severa, como será possível alimentar uma população mundial em crescendo?

Um grupo de cientistas na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, acredita ter a resposta: ‘quintas de algas’, o cultivo de microalgas, organismos unicelulares, em instalações ao largo da costa e alimentadas por água do mar.

Num estudo publicado este mês na revista ‘Oceanography’, os especialistas argumentam que é possível responder às necessidades nutricionais projetadas para o futuro, ao mesmo tempo que se fortalece a sustentabilidade ambiental.

“Temos a oportunidade para produzir alimento que é altamente nutritivo, de rápido crescimento, e podemos fazê-lo em ambientes que onde não competimos com outras utilizações”, explica Charles Greene, professor emérito e o autor principal do estudo, que acredita que essas ‘culturas marinhas’ terão impactos negativos sobre o ambiente muito menores do que as culturas em terra.

O artigo aponta que “as alterações climáticas, a terra arável limitada, a falta de água doce e a degradação ambiental constrangerão a quantidade de comida que podemos produzir”, o que leva Greene a argumenta que será possível alimentar um planeta mais densamente povoado “da forma como atualmente produzimos alimentos”, nem devido à “nossa dependência da agricultura terrestre”.

Assim, os cientistas querem contornar os obstáculos erguidos pela escassez de peixe nos mares, criando instalações de aquacultura nas áreas costeiras onde se possam cultivar algas. Os modelos usados indicam que as melhores localizações para essas instalações ficam nas costas marítimas do chamado ‘Sul Global’, “incluindo ambientes desérticos”.

“Nessa estreita faixa de terreno, poderemos produzir mais do que toda a proteína de que o mundo precisa”, assegura Greene.

O estudo permitiu também perceber que o consumo de algas fornece nutrientes que estão em falta nas deitas vegetarianas, como “aminoácidos e minerais essenciais que se encontram na carne e ácidos gordos ómega 3 habitualmente encontrados no peixe e no marisco”.

As algas crescem 10 vezes mais rápido do que culturas tradicionais e podem ser produzidas de forma mais eficiente do que na agricultura em terra, defendem.

Além dos benefícios nutricionais, o coletivo científico defende também que as algas consomem dióxido de carbono para se alimentarem e desenvolverem, pelo que o seu cultivo será mais uma forma de retirar esse gás poluente da atmosfera, salientando que essa poderá ser uma “parte da solução para as alterações climáticas”.

No decurso das experiências realizadas, os cientistas descobriram que quando são adicionadas algas ao alimento de galinhas, essas aves produzem ovos com o triplo da quantidade de ácidos gordos ómega 3, comparativamente a galinhas que não ingiram essas plantas marinhas.

“A aquacultura de microalgas marinhas pode oferecer oportunidades de investimento mutuamente benéficas para países ricos e países em desenvolvimento, fornecendo mitigação climática, enquanto, simultaneamente, fortalece a segurança alimentar e hídrica globais”, remata o estudo.





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