O que o genoma de 240 mamíferos pode revelar sobre a evolução dos humanos?



O Projeto Zoonomia, que resultou na criação daquela que é considerada a maior base de dados genómica comparativa de mamíferos, envolveu mais de 150 cientistas de todo o mundo, que se juntaram para mapear e descodificar o genoma de 240 espécies de mamíferos, incluindo os humanos, e tentar desvendar os mistérios da evolução de um dos mais diversos grupos taxonómicos.

As conclusões da investigação foram divulgadas esta sexta-feira em onze artigos publicados na revista ‘Science’ e, segundo Kerstin Lindblad-Toh, da Universidade de Uppsala, na Suécia, e uma das líderes do consórcio científico internacional, “fornecem uma quantidade enorme de informação sobre o funcionamento e desenvolvimento dos genomas dos mamíferos” e o conhecimento produzido “pode ser usado em estudos da evolução e em investigação médica”.

O genoma humano, contendo toda a informação que faz de nós o que somos e que faz o nosso organismo funcionar da maneira que funciona, contém cerca de 20 mil genes, e os cientistas descobriram que, pelo menos, 10% do genoma humano é partilhado com outras espécies de mamíferos.

Os investigadores acreditam que esse conjunto de genes estará relacionado com funções como o desenvolvimento embrionário e a regulação da expressão do RNA, uma macromolécula que é indispensável para o funcionamento das células.

Além disso, este trabalho permitiu também identificar zonas do genoma humano às quais, até agora, não tinha sido possível atribuir uma função clara. Os especialistas sugerem que essas zonas são ‘elementos reguladores’ que permitem que o genoma funcione corretamente, e explicam que alterações nessas regiões podem estar na origem do surgimento de doenças, além de poderem também ditar características físicas nos mamíferos, como, por exemplo, a cor do pelo.

Durante a investigação, foram descobertos mais de três milhões desses ‘elementos reguladores’ no genoma humano, cerca de mais de metade do que até agora se conhecia, e foi possível identificar as regiões que fazem com que os animais desenvolvam um olfato mais apurado ou a capacidade para hibernarem.

As investigações feitas apontam ainda que os mamíferos terão começado a divergir muito antes a Terra ter sido atingida pelo asteroide que terá feito desaparecer os dinossauros, há cerca de 65 milhões de anos, e podem ajudar a avaliar melhor os riscos de extinção de várias espécies de mamíferos, uma vez que os genomas com menos modificações, ou adaptações, são os que terão menor capacidade para lidar com alterações das condições ambientais e ecológicas.

“É entusiasmante termos agora uma imagem sobre quais as mutações que orientaram o desenvolvimento de traços específicos nestes mamíferos amplamente divergentes”, diz Matthew Christimas, um dos cientistas envolvido no Projeto Zoonomia.





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