O que significa o fim do embargo para a ciência cubana?



Durante meia década, os cientistas cubanos trabalharam com poucos recursos e quase nenhum incentivo. A normalização das relações entre Estados Unidos e o país de Fidel Castro, porém, vem criar um novo desafio para a ciência e cientistas cubanos: como é que eles se irão adaptar ao mundo moderno?

Segundo explica Richard Stone, da revista Science, estes cientistas “de guerrilha” sobreviveram com pouco e conseguiram milagres. “A minha estratégia para sobreviver como físico experimentar foi violar as fronteiras da ciência segura”, explicou à Science o cientista cubano Ernesto Althsuler. “Invadi zonas onde não era especialista, olhei para novos fenómenos e vi instrumentos científicos em objectos do dia-a-dia”, explicou o cientista, que já utilizou formigas para perceber como se comportavam as pessoas em pânico e estudou a forma como as folhas de chá desafiam a gravidade.

O embargo norte-americano a Cuba teve um impacto imediato nos cientistas cubanos, escreve Stone, reduzindo a sua capacidade para encontrar materiais, obter equipamentos e descobrir avanços científicos noutros países.

Mas a ciência sobreviveu. Apesar de Cuba já ter uma tradição de excelência científica, os cientistas dos nossos tempos continuam afastados do mundo exterior e frustrados pelas prioridades internas de pesquisa. Mas não é isso que os vai fazer parar. Altshuler, por exemplo, gastou menos de €85 para criar estudos sobre um material granular que, noutras instituições, valeriam muitos milhões de euros.

Outro dos triunfos dos cientistas cubanos é aquilo que Stone chama de “resultados notáveis da ciência cubana”, que estão relacionados com uma série de imunizações infantis obrigatórias, um programa em que médicos de todo o país fornecem vacinas para crianças, que levaram a que a esperança média de vida dos cubanos seja comparável à dos norte-americanos, com uma mera percentagem de investimernto do budget de saúde do vizinho do Norte.

Segundo Sérgio Jorge Pastrana, é difícil prever no que se transformará a ciência cubana pós-embargo. “As verdadeiras relações científicas [vão precisar de algo mais do que o levantamento do embargo]”, explica.

A partilha de dados e o retirar dos impedimentos na obtenção do visa é um bom começo. E o investimento cubano em ciência terá de subir. “Não queremos ser os párias da ciência internacional”, remata Luís Montero-Cabrera.

Como pode ver nesta foto tirada numa escola abandonada de Bayamo las Tunas, no leste do País, os cubamos sabem para onde querem ir e o caminho para lá chegar – só não sabem se terão condições para o fazer.

Foto: Jaume Escofet / Creative Commons






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