O segredo para salvar os grandes carnívoros está na melhoria da qualidade de vida das pessoas
Para proteger e conservar as populações de grandes felídeos, como os linces, os leões e os tigres, é fundamental melhorar a qualidade de vida da pessoas, através de modelos sustentáveis de desenvolvimento social e económico.
Esta é a principal conclusão de um estudo publicado esta semana na revista ‘Nature Communications’, em que quatro cientistas do Reino Unido e da Argentina afirmam que se as pessoas tiverem mais dinheiro serão mais tolerantes aos grandes felídeos e a outros carnívoros, aumentando o sucesso dos programas que visam a conservação dessas espécies.
Para os especialistas, fatores sociais e económicos, como a qualidade de vida, têm um peso muito maior na proteção desses animais do que abordagens puramente ambientalistas.
Thomas Frederick Johnson, da Universidade de Reading e o principal autor do artigo, considera que os habitats e o clima têm sido degradados em prol do “rápido desenvolvimento económico” e salienta que isso tem alimentado perdas de biodiversidade. O especialista diz mesmo que “este desenvolvimento económico está a causar declínios muito mais extremos do que tínhamos esperado ou imaginado”.
“No meio de um rápido desenvolvimento, as pessoas parecem tornar-se menos tolerantes aos carnívoros, surgem conflitos”, destaca Johnson, apontando que nesses contextos aumentam também as ocorrências de caça-furtiva, resultando em grandes perdas nas populações dos grandes carnívoros, especialmente dos felídeos.
A distribuição de tigres e de leões já terá contraído mais de 90%, relativamente à sua distribuição histórica, argumentam os autores, recordando que no Reino Unido, por exemplo, muitas espécies de carnívoros, como o lince, o lobo e o urso, “já foram caçados até à extinção”.
Por isso, os investigadores consideram que “quando as pessoas alcançam uma maior qualidade de vida e o desenvolvimento económico desacelera”, chegamos a um ‘ponto de inflexão’ e “as espécies perseguidas têm oportunidade de recuperar”.
Para substanciar essa conclusão, apontam que nos países mais ricos há mais e mais bem-sucedidos programas de proteção de habitats e de conservação de espécies, bem como “uma relação mais harmoniosa entre as pessoas e os carnívoros”.
Nesses países, fortemente concentrados na região ocidental do hemisfério Norte do planeta, o chamado ‘Norte Global’, os animais que eram considerados “pragas perigosas” são agora cada vez mais vistos como “uma componente importante dos nossos ecossistemas e das nossas culturas”.
É por isso que na Europa ocidental assistimos a uma “ressurgência de grandes carnívoros”, pois “a melhor qualidade de vida e um desenvolvimento económico mais lento permitiu que as populações de lobos [Canis lupus] crescerem 1.800% desde a década de 1960”.
No entanto, para podermos realmente proteger as espécies de grandes carnívoros em todo o mundo, não nos podemos ficar pelos países mais ricos e “temos de pensar como podemos salvar a vida selvagem em países atualmente em rápido crescimento económico, onde é provável que ocorra a extinção de espécies”, diz Jonhson.
O cientista diz que “um modelo económico mais lento e sustentável pode proteger as populações de carnívoros”, mas admite que isso poderá fazer com que as pessoas fiquem sujeitas a condições de pobreza durante mais tempo. Nesse sentido, defende que “temos urgentemente de desenvolver soluções que ajudem quer a biodiversidade, quer as pessoas”, e que as economias mais desenvolvidas “precisam de fornecer mais apoio financeiro para a proteção de biodiversidade a nível global”.
É importante recordar que na cimeira global da biodiversidade (COP15), que decorreu no passado mês de dezembro no Canadá, os líderes mundiais acordaram no reforço das contribuições dos países mais ricos para o financiamento de projetos de conservação nos congéneres mais pobres, algo que foi visto como um primeiro passo acertado em direção à reposição de justiça entre os Norte e o Sul globais.