Oceano está a sofrer transformações globais cumulativas sem precedentes
O oceano, o sistema de suporte de vida da Terra, está a sofrer transformações rápidas e cumulativas sem precedentes, que estão a levar os impactos das alterações climáticas nos ecossistemas marinhos para dimensões imprevisíveis, alerta um estudo publicado hoje.
Aquecimento, alterações de salinidade, perda de oxigénio e acidificação – todos fenómenos resultantes das alterações climáticas -, estão a acontecer em simultâneo e a alterar de maneira clara e sem precedentes os primeiros mil metros de profundidade [a profundidade média do oceano é de cerca de 4.000 metros], indica o estudo publicado no boletim especializado Nature Climate Change, da revista científica Nature.
A investigação – liderada por cientistas do Instituto de Física Atmosférica (IFA) da Academia Chinesa das Ciências, com colaboração de investigadores das instituições francesas Mercator Ocean International (MOI) e Laboratório de Meteorologia Dinâmica (LMD) da Escola Normal Superior – concluiu que “entre 30% e 40% das camadas superiores do oceano já sofreram mudanças significativas em pelo menos duas características críticas, quando comparadas com dados de há 60 anos.
O Atlântico subtropical, o Pacífico norte, o Mar Arábico e o Mediterrâneo são as regiões do oceano global onde as alterações cumulativas nos primeiros mil metros de profundidade são mais intensas, segundo um quadro de referência normalizado criado pelos investigadores para avaliar parâmetros essenciais do oceano.
O autor principal do artigo científico que dá conta das conclusões do estudo, Zhetao Tan, investigador do IFA, considera que “em algumas áreas o oceano regista alterações dramáticas, simultâneas e cumulativas em parâmetros fundamentais como temperatura, salinidade e níveis de oxigénio”.
“As características do oceano estão a modificar-se em múltiplas dimensões em simultâneo e até o oceano profundo, até recentemente considerado muito estável, está a modificar-se mais rapidamente do que pensávamos”, diz o cientista do IFA Lijing Cheng, citado num comunicado da Acadenia Chinesa das Ciências.
Sabrina Speich, investigadora do LMD, sublinha, citada no mesmo comunicado, que as conclusões do estudo “são baseadas em observações e análise diretas de parâmetros físicos, bioquímicos e geoquímicos e tornam clara a necessidade urgente de estabelecer mecanismos permanentes e de alta qualidade de monitorização do estado do oceano, para sustentar a necessária ação climática global”.
As alterações simultâneas e cumulativas de parâmetros críticos do estado do oceano estão, segundo o estudo, a provocar mudanças nos ecossistemas marinhos que põem em causa as comunidades humanas que deles dependem.
“As alterações múltiplas, simultâneas e cumulativas nas características do oceano geram fatores de stresse nas espécies marinhas que resultam, por exemplo, em alterações de padrões e rotas migratórias e no declínio de populações, o que pode comprometer a atividade pesqueira, criar problemas de insegurança alimentar e por em causa a própria existência de comunidades costeiras”, adverte outro dos autores do estudo, o investigador do LMD Laurent Bopp.
Para além dos impactos na biodiversidade e na utilização de recursos do oceano pela humanidade, as alterações identificadas pelo estudo publicado hoje resultam também na diminuição da capacidade do oceano de absorver dióxido de carbono e calor atmosférico, colocando em causa a função essencial do oceano como regulador do clima da Terra.