Oceanos podem ajudar a reduzir a fome no mundo



De acordo com um estudo publicado na “Nature Ecology & Evolution”, os mares e oceanos do planeta podem hospedar cerca de 13 milhões de km2 de aquacultura e assim reduzir, pelo menos, parte da insegurança alimentar no planeta.

À medida que a população mundial cresce – segundo dados da ONU irá chegar aos 9,8 mil milhões em 2050, e aos 11,2 mil milhões em 2100 -, os nossos sistemas alimentares ficam sob intensa pressão para garantir a produção de alimentos, especialmente proteína animal. Mas, segundo uma equipa de investigadores norte-americanos e chineses, liderados por Rebecca Gentryde da Universidade da Califórnia em Santa Barbara, os benefícios para a saúde humana de dietas ricas em peixes e a sustentabilidade da aquacultura marinha em comparação com a produção de carne terrestre tornam premente considerar o potencial desta solução.

Para estes cientistas, os oceanos podem representar uma imensa oportunidade para a produção de alimentos de forma sustentável, ainda que o ambiente do oceano aberto seja amplamente inexplorado como um recurso agrícola.

Na sua pesquisa, os investigadores excluíram áreas oceânicas inadequadas para a aquacultura, por determinadas restrições ambientais ou de uso humano. É o caso de áreas com condições de crescimento inadequadas devido a baixo oxigénio (apenas peixes) e baixa disponibilidade de alimentos fitociclotéricos (apenas bivalves). Também eliminaram águas muito profundas, ou já alocadas para outras actividades como a extracção de petróleo, navegação intensa ou áreas de protecção da vida marinha.

A partir da observação de 120 espécies de peixes e 60 de crustáceos, definiram taxas de crescimento, temperaturas ideais, a concentração de oxigénio que é necessário ou densidade de fitoplâncton para deduzir a concentração máxima de animais marinhos que podem abrigar as águas costeiras. No final, concluíram que “quase todos os países costeiros têm um grande potencial para a aquacultura marinha”.

A equipa de investigadores defende assim que cerca de 11.400.000 km2 de oceano podem ser dedicados à criação de peixes e 1.500.000 km2 podem ser desenvolvidos para bivalves, demonstrando a existência de um potencial expansivo em todo o mundo, incluindo países tropicais e temperados. A produção total seria considerável: se todas as áreas designadas como adequadas neste estudo fossem desenvolvidas (assumindo a inexistência de restrições económicas, ambientais ou sociais), Rebecca Gentryde e os seus colegas estimam que cerca de 15 mil milhões de toneladas de peixe poderão ser cultivadas todos os anos – mais de 100 vezes do que o consumo actual.

Ainda assim, mesmo destacando todo o potencial da aquacultura (que já fornece cerca de 50% do peixe consumido no mundo), os cientistas alertam para a necessidade de “considerar cuidadosamente o impacto da produção de alimentos aquáticos nos ecossistemas e recursos aquáticos e terrestres”.





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