ONG alerta para poluição marinha persistente gerada por infraestruturas petrolíferas offshore

A organização não-governamental (ONG) SkyTruth avança que, apesar de reconhecida a urgência de reduzir a produção de combustíveis fósseis para combater as alterações climáticas, continuam a surgir novos projetos, e a indústria começa a afastar-se cada vez mais da linha costeira.
Num relatório divulgado este mês, a mesma entidade aponta que a maioria dos novos projetos de larga-escala de extração de petróleo e gás implementados em 2024 estão localizados offshore, o que, argumenta, reflete “uma transição mais ampla da indústria” para a perfuração em águas mais profundas. Esse afastamento da costa, diz a SkyTruth, deve-se ao progressivo esvaziamento dos depósitos de petróleo perto da costa, e, em parte, está a tornar-se possível e economicamente viável graças à utilização de plataformas flutuantes e de navios de armazenamento (conhecidos na gíria como FxO), que evitam mais deslocações do que as estritamente necessárias à costa e permitem períodos mais longos e ininterruptos de extração.
Através de imagens de satélite, os investigadores da SkyTruth conseguiram, entre junho de 2023 e outubro de 2024, monitorizar tanto as plataformas fixas convencionais como as estruturas FxO para avaliar os riscos que representam para os ambientes marinhos, através de fugas de petróleo, de emissões de gases com efeito de estufa e da combustão de metano.
De acordo com a análise, existe “poluição generalizada por petróleo associada a instalações offshore de petróleo e de gás”, e as FxO “são uma significativa fonte de poluição crónica”. Das 10 instalações petrolíferas offshore mais poluidoras em todo o mundo, a SkyTruth avança que quatro são FxO, apesar de esse tipo de infraestruturas representar apenas uma pequena fração das instalações petrolíferas offshore.
Estima-se que as 10 instalações mais poluidoras tenham vertido nos oceanos, entre junho de 2023 e outubro de 2024, o equivalente a mais de 5.100 barris de petróleo, uma estimativa que a organização diz ser conservadora.
As instalações offshore que mais poluição emitem estão concentradas na África ocidental, especialmente na Nigéria, refere o relatório, país que tem cinco das 10 FxO mais poluidoras que foram monitorizadas pelos investigadores. Uma dessas instalações, segundo a análise, apresentava manchas de petróleo em seu redor em 18% das imagens de satélite, o que, segundo os relatores, sugere “que poderá libertar petróleo, em média, a cada cinco dias”.
No entanto, o Reino Unido, a Noruega, Angola, o Gana, o Brasil e os Emirados Árabes Unidos têm também infraestruturas petrolíferas que estão entre as maiores fontes de poluição offshore.
Quando às emissões de gases com efeito de estufa, o relatório revela que, em 2023, as infraestruturas offshore de combustíveis fósseis queimaram mais de 23 mil milhões de metros cúbicos de gás natural, “injetando cerca de 60 milhões de toneladas métricas de CO2 [dióxido de carbono] na atmosfera”. Além disso, os investigadores calculam que o tráfego dos navios de e para instalações petrolíferas offshore tenham gerado mais de nove milhões de toneladas métricas de CO2 em 2023.
“FxO e outras infraestruturas estão a causar significativa contaminação local por todo o mundo, com impactos demonstráveis nos ecossistemas marinhos e com riscos significativos para a segurança alimentar, a saúde pública e as economias costeiras”, argumenta a SkyTruth. A organização alerta que a expansão de plataformas petrolíferas flutuantes aumenta as ameaças sobre os mares e oceanos e insta os decisores políticos a serem mais rigorosos na avaliação e aprovação de projetos de exploração petrolíferas offshore.