ONG cabo-verdiana quer reforçar meios dos pescadores para não caçarem tartarugas
A organização não-governamental (ONG) cabo-verdiana Lantuna defendeu ontem o reforço de meios de rendimento de pescadores, para evitar que procurem ganhar dinheiro com a caça de tartaruga, espécie protegida.
“Precisamos encontrar uma forma de incentivar os pescadores, com materiais, linhas ou anzóis”, disse à Lusa, em crioulo, Samir Martins, técnico da Lantuna, ONG especializada na proteção de tartarugas.
“Por exemplo, um pescador que vá ao mar e consiga apanhar uma tartaruga, vai vendê-la cara e ganhar [o equivalente] a muitos dias de trabalho”, frisou.
Samir Martins afirmou que as tartarugas podem ser vendidas a mais de 10 mil escudos (90,68 euros), mas quando há pressa em ter o dinheiro, o valor pode cair para metade, até para afastar rapidamente “o perigo” de ter nas mãos uma espécie protegida.
Por outro lado, também há pressão do lado do comprador, que visa consumir a carne de tartaruga: “diz que é um crime e que pretende comprar barato”, explicou.
A Lantuna tem dado emprego suplementar a alguns pescadores, numa praia, através de uma iniciativa chamada Sentinela.
Em Porto Mosquito, 23 quilómetros a oeste da Praia, em vez de caçarem tartarugas, “os pescadores fornecem informações sobre a espécie”, exemplificou Samir Martins.
Noutros locais, os agricultores também são uma ameaça para as tartarugas, mas reconhece que tem havido avanços.
“Algumas pessoas estão sensibilizadas” e “deixaram de as apanhar”, outras pessoas “estão mais velhas e sem forças. Mas os mais novos são um perigo”, referiu.
Samir Martins queixa-se da dificuldade em “difundir informações nas rádios e nas televisões” para sensibilizar a população e travar a caça às tartarugas.
“É muito caro e nós não temos essas verbas. Com o apoio deles, acreditamos que teremos melhores resultados”, sustentou.
Na atual época de nidificação (julho a novembro), a Lantuna já contabilizou 240 ninhos nas quatro praias que vigia na ilha de Santiago (Ribeira das Pratas, Viila, Prozela e Medronho).
À semelhança de outras associações de proteção da espécie, a Lantuna – em atividade há três anos – queixa-se de falta de recursos financeiros para ter voluntários a proteger todos os locais de nidificação.
Cabo Verde introduziu legislação para proteger as tartarugas marinhas pela primeira vez em 1987, proibindo a sua captura em épocas de desova.
A lei prevê outros tipos de crime desde 2018, nomeadamente o abate intencional, bem como a comercialização, transporte e consumo.
Três ilhas do arquipélago – Sal, Boa Vista e Maio – acolhem 95% da nidificação, enquanto Santiago e o resto das ilhas representam 5%.