Opinião de Luís Gil, LNEG: A cortiça e o sequestro de carbono



Todas as matérias vegetais contribuem como sumidouros de dióxido de carbono e para a fixação de carbono, sendo este, como é sabido, um dos principais meios para contrabalançar a produção daquele poluente atmosférico, devido à combustão de hidrocarbonetos, nomeadamente combustíveis.

A sua redução tem sido um dos grandes objectivos de Governos e instituições diversas, e por isso actividades que promovam a diminuição da presença desta substância no ar apresentam inegáveis vantagens ambientais e ecológicas. Entre estas actividades encontra-se a exploração industrial e comercial da cortiça.

Um dos meios para diminuir a quantidade de dióxido de carbono existente na atmosfera é a produção de produtos de vida longa com base na biomassa vegetal, os quais englobam, sem dúvida, os produtos de cortiça. Além disso, estes materiais são “carbono neutros” na altura da sua decomposição ou aproveitamento energético.

Um aspecto muito importante relacionado com a exploração industrial e comercial da cortiça tem a ver com o aumento de produção de cortiça, devido à extracção e necessidade de a árvore ter que se proteger rapidamente do meio ambiente após ter sido “despida”.

Assim, esta operação acaba por funcionar como estímulo da produção de material suberoso. Sabe-se que durante o seu tempo de vida, em exploração, um sobreiro médio produz entre cerca de três e cinco vezes mais cortiça do que a que produziria se não fosse objecto de tiradia, ou seja, a soma das várias camadas de cortiça produzida e tirada é superior à única camada de cortiça produzida se não houvesse extracção, ao longo da vida de uma árvore.

Como se sabe, no seguimento do Protocolo de Quioto foram estabelecidas quotas de emissão de gases poluentes, nomeadamente os gases de efeito de estufa e créditos de carbono para remoções desses gases da atmosfera. Esta a ser estabelecido um mercado organizado para a negociação da emissão do CO2. O sequestro do carbono será tanto mais importante quanto maior tempo de vida tiverem os produtos florestais, como é o caso da cortiça.

E, neste momento, são apontados já vários milhões de euros que poderiam reverter para o sector para fomentar, I&D, reflorestações, desenvolvimentos na produção florestal e na indústria entre outras acções.

Luís Gil, Investigador Principal Habilitado

Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG)





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