Orçamento de carbono para manter aquecimento global abaixo dos 1,5 graus esgotar-se-á em três anos

Estimativas apontam que o limite de 1,5 graus Celsius de aquecimento global, face ao período pré-industrial dos anos 1850-1900, será excedido com a emissão de uma adicionais 130 mil milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2). E isso pode acontecer em pouco mais de três anos no atual cenário de emissões.
Num artigo publicado este mês na revista ‘Earth System Science Data’, dezenas de cientistas de vários países avisam que esse orçamento de carbono, ou seja, a quantidade de CO2 que podemos libertar sem ultrapassar o limite de aquecimento, está em risco e, com ele, poderá vir o fracasso do Acordo de Paris, adotado em 2015 pelos países do mundo, que se comprometeram a tudo fazer para impedir o aquecimento do planeta acima dos 1,5 graus Celsius.
Mais ainda, a investigação revela que o orçamento de carbono para os 1,6 e 1,7 graus pode também ser excedido nos próximos nove anos.
Estima-se que em 2024 a temperatura média global à superfície era já de 1,52 graus Celsius, dos quais 1,36 graus os cientistas atribuem às atividades humanas, que têm contribuído, de forma geral, para o aumento sem precedentes das concentrações de gases com efeito de estufa na atmosfera nos últimos anos.
Os investigadores dizem que a influência humana combinada com a “variabilidade natural no sistema climático”, que causa variações nas temperaturas da Terra de forma natural, estão a levar a temperatura média global para níveis nunca antes registados.
O facto de a temperatura média do planeta ter ultrapassado a marca dos 1,5 graus num ano não significa que o Acordo de Paris fracassou, dizem os cientistas. Para isso acontecer, a temperatura média global teria de estar acima desse nível durante várias décadas consecutivas.
No entanto, não deixam de salientar que os resultados deste trabalho deixam claro que as coisas não estão a correr da melhor forma, com o aumento rápido das emissões de gases com efeito de estufa.
“E os impactos apenas deixarão de priorar quando as emissões de CO2 dos combustíveis fósseis e a desflorestação alcançarem a neutralidade”, argumentam.
Olhando para uma escala temporal mais alargada, a equipa aponta que entre 2015 e 2024 a temperatura média global foi de 1,24 graus Celsius acima de níveis pré-industriais, com um aumento de 1,22 graus a terem origem humana. Por isso, sugerem os especialistas que, na prática, todo o aquecimento registado na última década foi causado por nós, humanos.
A última década foi, em média, 0,31 graus Celsius mais quente do que a anterior (2005-2014).
Um planeta cada vez mais quente está também a fazer subir o nível médio do mar, com uma subida de cerca de 228 milímetros desde 1900. Apesar de parecer insignificante, esse aumento tem impactos devastadores, especialmente em áreas costeiras de baixa altitude, com comunidades humanas e ecossistemas a enfrentarem riscos crescentes.