Pangolins mais caçados pela sua carne na África ocidental do que pelo tráfico de escamas



Os pangolins são dos animais mais afetados pelo tráfico de vida selvagem à escala global e os mamíferos selvagens mais traficados em todo o mundo.

Estima-se que cerca de um milhão de pangolins tenham sido capturados ilegalmente só na última década, sobretudo por causa das suas escamas, que aos animais lhes confere um aspeto único e uma defesa contra predadores, mas são altamente apreciadas na medicina tradicional asiática como cura para uma variedade de maleitas, desde a ansiedade à possessão demoníaca, passando pela surdez e febre causada pela malária.

Existem atualmente quatro espécies de pangolins em África e outras quatro na Ásia, todas ameaçadas de extinção, mas a grande maioria das escamas que seguem pelos mercados negros até ao continente asiático provém de animais caçados em países africanos. Recentemente, um relatório da Widlife Justice Commission revelava que a Nigéria, apesar da queda das exportações, continua a ser um grande centro de tráfico de escamas de pangolins.

Contudo, um estudo publicado posteriormente na revista ‘Nature Ecology & Evolution’ aponta que a principal razão para a caça de pangolins nesse país da África ocidental é a sua carne, para consumo local, e não as suas escamas.

Através de entrevistas a mais de 800 caçadores e comerciantes na região sudeste da Nigéria, entre 2020 e 2023, a equipa de investigadores, liderada pela Universidade de Cambridge (Reino Unido), perto de 98% dos pangolins em terras nigerianas são, primeiro que tudo, apanhados para consumo da sua carne e cerca de dois terços das suas escamas são deitadas fora, com menos de 30% a serem vendidas.

De acordo com a investigação, 97% dos pangolins são caçados “oportunisticamente”, ou seja, não são especificamente visados nas caçadas, e 71% são consumidores pelos próprios caçadores, com 27% a serem comercializados localmente.

“Milhares de quilos de escamas de pangolins são apreendidos nos portos da Nigéria, criando a impressão de que a procura internacional pelas escamas está por detrás da exploração dos pangolins na África ocidental”, diz, em nota, Charles Emogor, primeiro autor do estudo.

E acrescenta que caçadas que visam especificamente os pangolins são “praticamente inexistentes”.

Emogor diz ainda que a exploração dos pangolins já acontecia na África ocidental muito antes de as suas escamas começarem a ser traficadas para a Ásia. Na Nigéria, a carne de pangolim é frequentemente consumida por mulheres grávidas, pois acredita-se que ajuda a criar bebés fortes. Além disso, segundo as informações transmitidas pelos caçadores entrevistados, a carne de pangolim é considerada muito saborosa.

“Os pangolins enfrentam uma combinação letal de ameaças”, aponta o cientista. “São fáceis de caçar”, porque, quando assustados, enrolam-se numa bola defensiva e são facilmente apanhados à mão, “reproduzem-se lentamente, sabem bem aos humanos e acredita-se falsamente que têm propriedades curativas em medicinas tradicionais”. Como se isso não bastasse, as florestas onde vivem estão a ser destruídas.

Embora este estudo se tenha focado na Nigéria, os investigadores não põem de lado a possibilidade de os mesmos padrões de caça e consumo poderem ser encontrados noutros países africanos, como os Camarões e o Gabão, ou mesmo em todo o continente.

“Se perdermos o pangolim, perdemos 80 milhões de anos de evolução”, avisa Emogor, pois esses “são os únicos mamíferos com escamas e os seus antepassados existiam quando os dinossauros andavam pelo planeta”.






Notícias relacionadas



Comentários
Loading...