Paquistão precisa de 16 mil milhões de dólares para recuperar das cheias, estima Banco Mundial
Durante o verão, o Paquistão foi palco de vários desastres que tornaram bastante evidentes os impactos das alterações climáticas, especialmente sobre as comunidades mais vulneráveis: calor extremo, seca e cheias.
Chuva torrenciais sem precedentes ‘submergiram’ perto de um terço da superfície do país, resultando em quase duas mil mortes e tendo afetado mais de 33 milhões de pessoas. De acordo com estimativas do Banco Mundial, o Paquistão precisará de aproximadamente 16 mil milhões de dólares (cerca de 15 mil milhões de euros) para recuperar das perdas sofridas pelo que as Nações Unidas descreveram como “as cheias mais severas da história recente” dessa nação.
A instituição financeira internacional adianta que as alterações climáticas terão sido responsáveis pela “intensidade” da onda de calor sentida e pelo “padrão incomum da monção”, ainda que não deixe de afirmar que parte dos “efeitos devastadores” terão sido causados por escolhas políticas e investimentos do passado que não permitiram ao Paquistão adquirir uma maior resiliência. E destaca que problemas como a desflorestação e a degradação dos solos, sistemas de gestão de rios desatualizados e a falta planos de preparação para desastres tornarem o país mais vulnerável a fenómenos climáticos extremos.
“O Paquistão faz parte do grupo de países mais vulneráveis às alterações climáticas, e eventos meteorológicos extremos deverão tornar-se mais frequentes e mais intensos nas próximas décadas”, alerta o Banco Mundial, assinalando a importância de “ação urgente” para o país desenvolver estratégias de mitigação e adaptação.
O relatório reconhece que o Paquistão dispõe de recursos financeiros limitados, pelo que será necessário financiamento internacional “substancial”, e que o país “é fortemente afetado pela perda de biodiversidade e dos serviços de ecossistemas”, o que intensifica ainda mais as consequências das alterações climáticas.
Caso não sejam tomadas medidas para responder à combinação dos efeitos das alterações climáticas e a degradação ambiental, que, na verdade, são duas faces da mesma moeda e que se alimentam mutuamente, “a fragilidade económica do Paquistão” será agravada, com possíveis perdas anuais de Produto Interno Bruto (PIB) entre os 18% e os 20% até 2050.
A construção de resiliência e a adaptação aos riscos climáticos “são imperativos para o Paquistão”, assinala o Banco Mundial, que recomenda o país a transformar o seu sistema de produção agrícola, para ser possível reduzir o seu impacto sobre o ambiente, aumentar a sua produtividade e adquirir maior capacidade para enfrentar as alterações climáticas.
Na 27.ª cimeira mundial do clima, a COP27, que terminou este domingo, o Primeiro-ministro paquistanês, Shehbaz Sharif, avançou estimativas diferentes das dos Banco Mundial para recuperar de perdas e danos sofridos pelas cheias, que rondam os 30 mil milhões de dólares.
Tal como outros países em desenvolvimento, o Paquistão declara estar a sofrer as consequências de uma crise planetária para a qual não contribuiu, descrevendo os efeitos das alterações climáticas como “um desastre criado pelo Homem”.
Foi também na COP27 que, depois de negociações tortuosas, foi acordada a criação de um fundo para compensar os países mais vulneráveis por perdas e danos sofridos pelas alterações climáticas, que precisamente como objetivo ajudar os Estados afetados a recuperarem dos impactos de desastres climáticos. Contudo, poderá demorar algum tempo até que esse fundo esteja operacional e pronto a financiar os que mais precisam, um tema que gerou divergências profundas entre as delegações mundiais, especialmente entre os países do Norte e do Sul.