Para salvarmos as abelhas, temos também de olhar para as aves



Os insetos estão a sofrer grandes declínios por todo o mundo. Estima-se que nos últimos 30 anos, cerca de 75% das populações de insetos, incluindo polinizadores como as abelhas, tenham desaparecido, sobretudo devido a mudanças nos usos do solo, à expansão de áreas agrícolas e urbanas e à perda de habitat.

No entanto, não é tarefa fácil saber onde ocorrem espécies selvagens de abelhas e essa lacuna nos dados científicos pode criar obstáculos à implementação de medidas que visem a sua conservação.

Cientes disso, uma equipa de investigadores do Laboratório Cornell de Ornitologia, nos Estados Unidos da América (EUA), defende que a combinação entre dados de observações de aves e de usos do solo podem dar aos conservacionistas informações mais precisas sobre os números de abelhas selvagens.

“O nosso entendimento de onde ocorrem as abelhas é realmente obstaculizado por dados insuficientes, e isso limita o planeamento da conservação”, afirma, em comunicado, Josée Rousseau, primeiro autor do artigo publicado recentemente na revista ‘PLOS One’.

Os investigadores acreditam que a aves podem ajudar a colmatar as faltas de dados sobre a ocorrência de abelhas selvagens, por serem “excelentes indicadores ecológicos” que, considera Amanda Rodewald, uma das coautoras, “muitas vezes nos dizem mais sobre a qualidade do ambiente do que dados de satélite”.

O estudo focou-se nas regiões central e oriental dos EUA, recorrendo a dados públicos de observação de aves da plataforma eBird, do laboratório da Universidade de Cornell, e cruzando-os com cerca de 477 mil registos sobre abelhas e com informações sobre usos do solo provenientes do Departamento de Agricultura norte-americano.

Os cientistas concluíram que a combinação de dados ambientais e sobre aves é “muito mais eficaz” na previsão do número de espécies de abelhas selvagens que ocorrem em grandes áreas geográficas.

“Até agora, a maioria dos esforços para prever populações de abelhas têm dependido somente de dados sobre a ocupação do solo”, aponta Rosseau, que explica que “ao incorporar dados sobre aves, desenvolvemos um entendimento mais matizado dos tipos de paisagens onde é expectável que encontremos uma maior riqueza de abelhas”.

Para os investigadores, esse conhecimento combinado pode ser uma grande ajuda no planeamento de ações de conservação desses polinizadores selvagens, uma vez que as aves e as abelhas tendem a responder de formas semelhantes a alterações nos seus habitats. “As aves podem indicar aspetos do ambiente que podem não ser visíveis em somente com imagens de satélite, como a presença de plantas em flor ou práticas de gestão específicas”, detalha Rodewald.

Na prática, o que estes autores propõem é “seguir as aves” para encontrar as abelhas, sabendo de antemão o que ambos os tipos de animais têm em comum, como as preferências de habitat e de alimento.






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