Pardais aprendem mais com os irmãos mais velhos do que com os pais

Os chapins-reais europeus (espécie comum de pardal) aprendem competências essenciais para a vida não apenas com os pais, mas também — e sobretudo — com irmãos e outros elementos do bando. A conclusão é de um estudo publicado na revista PLOS Biology por investigadores do Instituto Max Planck de Comportamento Animal, na Alemanha.
Em muitas espécies animais, os juvenis adquirem competências através da observação ou da interação com os progenitores. Contudo, pouco se sabe sobre os hábitos de aprendizagem em espécies onde o contacto parental é reduzido. Foi isso que levou Sonja Wild e a sua equipa a estudar o comportamento de aprendizagem dos jovens chapins-reais europeus — aves que permanecem dependentes dos pais apenas durante algumas semanas após o nascimento.
No estudo, os investigadores acompanharam 51 casais reprodutores e os seus 229 descendentes, a quem apresentaram caixas de alimentação com dois mecanismos possíveis de resolução: deslizar uma pequena porta para a esquerda ou para a direita para aceder ao alimento.
Os dados mostraram que as crias tinham maior probabilidade de resolver o puzzle se os pais já dominassem a tarefa, o que sugere algum grau de aprendizagem parental. No entanto, os jovens aprendiam com mais eficácia quando observavam irmãos mais velhos ou outros adultos do bando — e a influência dos progenitores foi, afinal, bastante limitada.
Em particular, os indivíduos que não eram os mais velhos da sua ninhada pareciam aprender quase exclusivamente com os irmãos mais experientes, com mais de 90% das resoluções observadas a seguir o modelo fraterno, e não o dos pais.
Estes resultados mostram um exemplo de transmissão de conhecimento entre gerações que não depende exclusivamente dos progenitores, destacando o papel crucial dos irmãos e companheiros de grupo no processo de aprendizagem. Os autores defendem que estudos futuros poderão explorar o impacto de outros fatores como as condições ambientais ou o stress durante o desenvolvimento.
Em comunicado, os investigadores explicam que “em muitas espécies animais, os juvenis dependem dos pais para aprender certos comportamentos — um processo designado por herança cultural, que ajuda a manter semelhanças comportamentais dentro das famílias. O que mostramos agora, usando aves canoras como modelo, é que em espécies com cuidados parentais limitados, os irmãos podem desempenhar um papel central na aprendizagem, oferecendo uma via alternativa para a transmissão cultural.”
O estudo recorreu a caixas-puzzle totalmente automatizadas, permitindo recolher dados detalhados de centenas de aves equipadas com microchips. Ao longo de algumas semanas, foram registadas dezenas de milhares de tentativas de resolução, permitindo compreender em detalhe as estratégias de aprendizagem e tomada de decisão adotadas pelos juvenis à medida que ganhavam autonomia.
“Os chapins-reais são hoje uma espécie-modelo no estudo do comportamento social e da aprendizagem”, acrescentam os autores, “mas há ainda poucos trabalhos focados na fase juvenil, apesar de ser um período crítico em termos de adaptação. Não sabíamos sequer se iriam tentar resolver os puzzles — e ficámos surpreendidos com o entusiasmo com que participaram nas experiências. Em poucas semanas, consumiram 33 quilos de larvas!”