Partidos e população de Fanhais contra Nazaré Green Valley



A população de Fanhais, no concelho da Nazaré, recusa a construção de um projeto de produção de hidrogénio verde na aldeia, obrigando à deslocalização do investimento de 150 milhões de euros para outro concelho.

A oposição da população ao projeto foi expressa numa Assembleia Municipal Extraordinária realizada na terça-feira à noite, na aldeia em que a empresa Rega Energy pretendia implementar parte de um investimento de 150 milhões de euros para descarbonizar indústrias da região, através da substituição de fontes de energia como gás natural por hidrogénio verde.

O projeto, denominado Nazaré Green Hydrogen Valley’, previa a instalação de 62 hectares de painéis fotovoltaicos e sete turbinas eólicas numa área de 220 hectares de pinhal, na aldeia de Fanhais, no concelho da Nazaré, distrito de Leiria.

Na assembleia, que contou com a participação de cerca de uma centena de habitantes da aldeia, a população manifestou-se contra o projeto que obrigaria a uma alteração do Plano Diretor Municipal (PDM) da Nazaré e à desmatação do que consideram ser “o pulmão” do concelho.

A sessão contou com a presença de dois responsáveis da empresa, que explicaram o projeto e asseguraram que, caso fosse viabilizado, a empresa se comprometeria com “medidas compensatórias de reflorestação”, equivalentes ao número de árvores que fossem cortadas.

As explicações não convenceram a população nem os deputados da CDU, Bloco de Esquerda, PS e PSD, que assumiram na sessão que votariam contra o projeto.

A mesma posição foi também expressa pelos vereadores da CDU, do PSD e pelo vereador do Ambiente na Câmara da Nazaré, que manifestaram a intenção de chumbar o projeto, se vier a ser submetido ao executivo.

Sem afirmar claramente que votaria contra, o vice-presidente da Câmara da Nazaré, Manuel Sequeira, disse serem suas “as dores da população de Fanhais”, assumindo reservas em relação à implementação do projeto na aldeia.

A população entregou um abaixo-assinado com cerca de 300 assinaturas a pedir a inviabilização do Nazaré Green Hydrogen Valley e chegou a propor a realização de um referendo sobre a sua implantação em Fanhais.

“Leva-se daqui uma mensagem óbvia e em devido tempo será tomada a decisão sobre este projeto”, afirmou o presidente da autarquia, Walter Chicharro (PS) no final da sessão em que todos os partidos deixaram claro o apoio às pretensões da população da aldeia.

A primeira decisão do executivo passa por deliberar se vai ou não alterar o PDM para que o projeto possa ser viabilizado, o que, segundo Walter Chicharro, deverá ser agendado para uma das próximas reuniões de Câmara.

A manterem-se a intenções de voto expressas na assembleia, o Nazaré Green Hydrogen Valley não será aprovado mas, segundo o responsável pelo desenvolvimento de projeto na empresa Rega Energy, João Rosa Santos, “o projeto avançará, se não for em Fanhais, noutras localizações alternativas que estão também a ser avaliadas”.

O projeto envolve quatro concelhos (Nazaré, Leiria, Marinha Grande e Alcobaça) e servirá um consórcio que representa cerca de 10% das emissões de CO2 da indústria nacional.

O Nazaré Green Hydrogen Valley inclui uma unidade para a produção do hidrogénio verde e uma central solar que lhe fornecerá a energia necessária para a eletrólise, e prevê a criação de 140 novos postos de trabalho.

O projeto, classificado como de interesse nacional, é desenvolvido por um consórcio de oito empresas que englobam o setor dos cimentos (Cimpor e Cecil), do setor do vidro (BA Glass, Crisal e Vidrala), entre outras empresa dos setores da água e do gás natural.

Além do projeto previsto para a Nazaré, a empresa está a implementar outros dois, um em Coimbra e outro em Aveiro.





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