Passaporte Digital de Produto vai revolucionar a indústria, afirmam especialistas em Encontro Ibérico
No primeiro Encontro Ibérico de Normalização, realizado a 28 de outubro, Portugal e Espanha posicionaram-se na vanguarda da maior transformação industrial da Europa: a implementação do Passaporte Digital de Produto (PDP), foi divulgado em comunicado.
Segundo a mesma fonte, a Organizado pelo Instituto Português da Qualidade (IPQ) em parceria com a Associação Espanhola de Normalização (UNE), com o apoio da GS1 Portugal, o evento destacou a colaboração ibérica como um motor para garantir a rastreabilidade, circularidade e transparência que irão definir o futuro dos produtos no mercado único. O encontro reuniu mais de 300 participantes, entre representantes de empresas, associações e entidades públicas.
A sessão de abertura foi marcada por um forte alinhamento estratégico. O Secretário de Estado da Economia, João Rui Ferreira, trouxe a perspetiva governamental, salientando o impacto económico do PDP como uma garantia de acesso e valor que prepara as pequenas e médias empresas (PME) para os desafios dos mercados internacionais.
Esta visão foi partilhada por João Pimentel, Presidente do Instituto Português da Qualidade (IPQ), que sublinhou que a normalização é uma construção coletiva baseada em conhecimento e confiança. A aliança foi reforçada por Javier Garcia, Diretor-Geral da Associação Espanhola de Normalização (UNE), que destacou a ambição comum de aumentar a competitividade das empresas através de alianças estratégicas.
A visão da Comissão Europeia: desafios e um calendário a cumprir
A perspetiva regulatória da União Europeia foi detalhada por Óscar Nieto, Policy Officer na DG Grow da Comissão Europeia, que focou os desafios e o calendário de implementação. Nieto explicou que o PDP vai funcionar como uma “identidade digital” para cada produto, permitindo que a informação que antes estava dispersa agora se torne transparente, acessível e legível por máquinas.
O objetivo é transformar uma obrigação legislativa num valor acrescentado, com benefícios claros para a economia circular, para o consumidor e para o mercado. O sistema funcionará com base num registo central em que as empresas vão registar os seus produtos, sendo a informação depois acedida através de um código (como um QR Code) no próprio produto. Relativamente ao calendário, foi adiantado que as primeiras normas harmonizadas para o PDP deverão surgir em 2027, sublinhando a urgência e a oportunidade para o trabalho de normalização.
Desafios e oportunidades setoriais
As mesas-redondas traduziram o conceito do PDP em desafios e oportunidades reais, com especialistas a partilharem visões concretas para as suas indústrias:
- Construção e Metalurgia: o debate, moderado por Beatriz Águas, Gestora Sénior de Relações Corporativas da GS1 Portugal, focou-se na necessidade de informação standarizada para o setor conseguir tornar-se mais eficiente, como explicou Sergio Muñoz Gómez, Diretor-Geral da BuildingSMART. O principal desafio foi apontado por Cláudia Ribeiro, do CATIM, que alertou para a grande diferença de maturidade digital entre as empresas. Pedro Mêda, professor na Universidade do Porto, contextualizou o PDP como um instrumento central para o Green Deal, cuja implementação vai exigir um grande envolvimento e dinâmica por parte dos fabricantes e outras entidades públicas e privadas.
- Ecodesign e Baterias: na discussão moderada por Pedro Oliveira Lima, Consultor na GS1 Portugal, a importância dos standards globais foi defendida por Francesca Chiovenda, do GS1 Global Office. A perspetiva ibérica do setor foi partilhada por vários especialistas. Eva Roldán, do CIRCE Centro Tecnológico, e Carlos Nogueira do LNEG, concordaram que o PDP deve ser visto não como uma obrigação, mas como uma “ferramenta de inovação” que traz transparência e confiança ao mercado. Por outro lado, Franco di Persio, também do CIRCE, detalhou os desafios a superar: a fragmentação do sistema, as dificuldades para as PME, a falta de incentivos económicos e a necessidade crítica de harmonizar a implementação em todos os Estados-Membros para garantir um mercado único funcional.
- Setor Têxtil: o painel, moderado por Manuel Martínez, Responsável de Standards da GS1 Espanha, abordou os desafios da sustentabilidade. Ana Barros, Investigadora no CITEVE, partilhou a experiência do CITEVE no âmbito do PDP, focando os principais desafios técnicos, económicos e sociais que as empresas poderão enfrentar com a sua implementação, aconselhando-as a iniciarem desde já a sua preparação, através de um diagnóstico interno que identifique necessidades e requisitos para uma adoção efetiva do PDP. A esta visão, Hector Viniegra Bernal, da TECNALIA, acrescentou a questão crítica sobre quem irá controlar a veracidade da informação. Partilhando um conselho prático, David Allo, Responsável de Sustentabilidade do Consejo Intertextil Español, reforçou que a implementação é uma obrigação regulatória e aconselhou as empresas a começarem a preparar-se desde já, através de um diagnóstico interno para avaliar a informação que possuem e o que será necessário para uma implementação efetiva.