Pepinos-do-mar: A ‘equipa de limpeza’ dos oceanos que protege os recifes de coral contra doenças



Os recifes de coral são considerados as florestas tropicais dos oceanos. Apesar de cobrirem menos de 1% da superfície da Terra, suportam entre 25% e 40% de todas as espécies marinhas conhecidas.

As pressões de origem humana, como a poluição e o aquecimento dos mares e oceanos, e surtos de doenças têm vindo a fazer cair as populações de corais, afetando não apenas a biodiversidade que albergam e que deles depende diretamente, mas também todos os ecossistemas marinhos.

Agora, uma nova investigação científica revela um elemento crucial da saúde dos recifes de coral, que tem sido ignorado: o pepino-do-mar. Estes equinodermes, animais ancestrais que terão evoluído há quase 500 milhões de anos, são detritívoros, ou seja, alimentam-se de restos de animais e de plantas, mantendo os ecossistemas limpos. Posto de outra forma, são os ‘aspiradores’ dos oceanos.

Dessa forma, contribuem para a saúde dos ecossistemas marinhos, eliminando microrganismos potencialmente prejudiciais, bem como patógenos que podem causar a morte de corais.

No entanto, desde o início do século XIX, os pepinos-do-mar têm sofrido fortes quebras populacionais devido à captura excessiva, e os declínios continuam nos dias de hoje, sendo que já desapareceram totalmente de muitos recifes.

A equipa de investigadores quis perceber se a presença desses animais tem alguma influência na saúde e sobrevivência dos corais. E a descoberta deu-se quase por acaso.

Cody Clements, do Instituto de Tecnologia da Geórgia (Estados Unidos da América), estava a plantar corais ao largo da costa da ilha de Moʻorea, na Polinésia Francesa. Contudo, os pepinos-do-mar eram tão numerosos que o investigador decidiu retirá-los do local. Pouco tempo depois, notou que os corais começavam a morrer, desenvolvendo sinais de doença.

Intrigado, Clements e outros cientistas decidiram tentar perceber o que se tinha passado. Para isso, foram estabelecidas estações de monitorização de corais Acropora pulchra na ilha de Moʻorea, na Polinésia Francesa.

Num artigo divulgado na publicação ‘Nature Communications’, os cientistas revelam que nas porções de recifes de coral onde os pepinos-do-mar estavam ausentes, os corais começavam a desenvolver uma banda esbranquiçada na sua base, que se expandia até matar toda a colónia.

Já nas áreas com pepinos-do-mar, os corais sobreviviam, levando-os a estimar que os corais sem pepinos-do-mar tinham uma probabilidade de morrer 15 vezes superior.

Clements observa, em comunicado, que os humanos têm vindo a poluir os oceanos, a pescar em excesso nos recifes, a aumentar o fornecimento de nutrientes e de matéria orgânica e a retirar os pepinos-do-mar. Tudo conjugado, acabamos por ter nutrientes e matéria orgânica em demasia, criando condições propícias ao crescimento de bactérias nos sedimentos dos recifes e que podem ser fatais para os corais.

“Basicamente, temos vindo a poluir os nossos ambientes ao mesmo tempo que retiramos todos os empegados de limpeza”, comenta Mark Hay, outro dos principais autores do artigo.

Por isso, os investigadores consideram ser urgente chamar a atenção do público e dos decisores para a importância da proteção dos pepinos-do-mar e para o papel fundamental que desempenham para garantir a saúde e a sobrevivência dos recifes de coral e de toda a vida que deles depende.

“Vai exigir esforço, mas aumentar a saúde dos recifes melhorará a biodiversidade e, assim, os meios de subsistência das pessoas nas comunidades costeiras”, destaca Clements.





Notícias relacionadas



Comentários
Loading...