Pequenas florestas isoladas não chegam para proteger a biodiversidade

A perda de habitats naturais e a fragmentação das florestas são das principais causas da perda de biodiversidade, uma das maiores crises planetárias dos nossos tempos.
No entanto, os cientistas parecem dividir-se no que toca à abordagem a esse problema. Enquanto uns defendem que o caminho deve ser preservar vários fragmentos de floresta, outros consideram que o foco deve estar nas áreas maiores e com continuidade.
Uma equipa internacional de cientistas dos Estados Unidos da América, Reino Unido, Brasil, Argentina, México, Austrália, Suíça e Alemanha acredita, por fim, ter a resposta a esse dilema.
Através do estudo de quatro mil espécies de vertebrados, invertebrados e plantas em 37 locais do mundo, os investigadores concluíram que as paisagens fragmentadas têm, em média, entre 13% e 12% menos espécies do que paisagens mais vastas. E que as espécies generalistas, que se conseguem adaptar a uma variedade de ambientes, são as que mais abundam em áreas fragmentadas.
“A fragmentação é má”, sentencia, em comunicado, Nathan Sanders, da Universidade do Michigan e um dos principais autores do artigo publicado esta quarta-feira na revista ‘Nature’.
Para o investigador, o trabalho “mostra claramente” que a fragmentação de habitats tem efeitos negativos na biodiversidade a vários níveis. Contudo, diz que, quando possível devemos tentar conservar áreas isoladas, mas “temos de ser sensatos nas decisões de conservação”.
A questão, ainda em cima da mesa, é se proteger parcelas isoladas de floresta, ou de outro tipo de habitat, não será mais benéfico para a biodiversidade, do que preservar áreas mais extensas mas também mais homogéneas. Thiago Gonçalves-Souza, primeiro autor do estudo, aponta que no centro do debate está a oposição entre aqueles que defendem que habitats isolados têm uma maior diversidade de espécies e que, por isso, proteger esses fragmentos, no final do dia, permite proteger uma maior variedade de formas de vida, e aqueles que entendem que a grande biodiversidade está em áreas mais extensas.
Embora reconheçam que é possível níveis de biodiversidade diferentes quando se comparam fragmentos de habitats entre si, os autores deste trabalho argumentam que a biodiversidade numa área mais extensa é muito superior.
“Este artigo resolve um debate com séculos sobre como conservar a biodiversidade em áreas naturais, começado por luminárias científicas como E.O. Wilson e Jared Diamond”, diz Nick Haddad, que também assina o estudo.
“Em muitos, muitos países já não existem muitas florestas grandes e intactas. Por isso, o nosso foco deve ser na plantação de novas florestas e no restauro de habitats cada vez mais degradados”, afirma Gonçalves-Souza. “O restauro é crucial para o futuro, muito mais do que debater se é melhor ter uma grande floresta ou vários segmentos mais pequenos”, reconhece.