Perda de gelo na Antártida pode estar a ameaçar os pinguins-imperadores mais do que se pensava

As populações de pinguins-imperadores (Aptenodytes forsteri) da Antártida estão a registar perdas “muito mais rápidas do que esperado”, alertam cientistas, à medida que o aquecimento global faz desaparecer cada vez mais cedo o gelo de que a espécie depende.
Uma investigação do British Antarctic Survey, uma entidade britânica que se dedica ao estudo das regiões polares do planeta, revela que 16 colónias dessa grande ave marinha viram os seus números reduzir 22%, em média, entre 2009 e 2023, o que equivale a algo como menos 18.275 indivíduos adultos e a uma redução de 1,6% por ano.
De acordo com os autores, que divulgaram a descoberta na revista ‘Communications Earth & Environment’, essa estimativa é muito superior aos piores cenários estimados anteriormente por outros estudos que tiveram por base o cenário de altas emissões de gases com efeito de estufa do Painel Intergovernamental para a Alterações Climáticas (IPCC, na sigla em inglês).
A causa da redução das colónias está associada à perda de gelo na Antártida. A época de reprodução começa entre março e abril, com os machos e as fêmeas envolvidos em rituais intricados de reforçam os laços entre o casal (os pinguins-imperadores são uma espécie monogâmica, pelo que mantêm os mesmos parceiros de ano para ano).
Os ninhos são feitos em gelo que se formou durante o inverno antártico (o que no hemisfério norte coincide com a época do verão). Depois de depositarem os ovos, das fêmeas lançam-se ao mar em busca de alimento, deixando o macho com a responsabilidade de incubar o ovo e, quando nasce, de cuidar da cria.
Quando, em dezembro, chega o verão, os pequenos pinguins começam a perder a sua plumagem acinzentada e a desenvolver uma plumagem densa e à prova de água, que as protegerá do frio intenso e lhes conferirá uma grande velocidade debaixo de água.
Normalmente, os pares escolhem fazer os ninhos perto dos limites do gelo, para que seja mais curta a distância entre esse local e o mar de onde extraem o alimento. Quanto maior for essa distância, maior será o tempo que a cria tem de esperar entre refeições, o que põe em risco a sua sobrevivência.
No entanto, com o aumento das temperaturas na Antártida, o gelo nos limites das plataformas geladas estão a quebrar cada vez mais cedo, ainda antes de as crias terem a sua plumagem térmica completamente desenvolvida. Caindo nas águas polares gélidas, morrem em pouco tempo.
“À medida que isto acontece com mais frequência, o tamanho da colónia vai reduzindo”, dizem os investigadores.
Embora não saibam se o mesmo poderá estar a acontecer por toda a Antártida, uma vez que as colónias estudadas estão localizadas na Península Antártica e no Mar de Weddell, a equipa salienta que sabe-se que a biodiversidade singular dessa região do planeta “não está imune às consequências do aumento contínuo das emissões globais de gases com efeito de estufa”.
Em 2022, o governo dos Estados Unidos da América declarara os pinguins-imperadores como espécie ameaçada ao abrigo da Lei de Espécies Ameaçadas do país, considerada uma das mais fortes do mundo no que toca à proteção da biodiversidade. Mais recentemente, em março deste ano, um outro estudo alertava para a necessidade de agravar o estatuto de conservação da espécie na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), de “Quase Ameaçado” para “Em Perigo”.
E esta investigação surge como mais um sinal de alerta, sugerindo que o futuro dessas aves emblemáticas da Antártida não parece brilhante. “Até que o mundo se empenhe seriamente na redução das emissões com gases de efeito de estufa”, lançam estes investigadores, o gelo marinho continuará a recuar “e mais crias cairão na água gelada” antes de estarem prontas para dar esse salto.