Perda de recifes de coral pode causar quebras no rendimento da pesca



Os recifes de coral estão entre os habitats mais produtivos e biologicamente diversos do planeta, rivalizando mesmo com as florestas tropicais. Além de serem locais de grande beleza natural, são refúgios essenciais para inúmeras espécies animais, bem como zonas de reprodução e desenvolvimento de peixes e invertebrados.

A degradação dos recifes de coral devido, sobretudo, ao aumento da temperatura marinha, efeito cada vez mais intenso das alterações climáticas, põe em risco a estabilidade e mesmo a sobrevivência de várias espécies. O famigerado fenómeno do “branqueamento”, em que os organismos fotossintéticos (zooxantelas) que vivem nas estruturas calcárias construídas pelos pólipos de coral são expulsos das suas casas coralinas quando a água se torna demasiado quente, é uma das facetas mais visíveis das ameaças enfrentadas pelos corais.

No ano passado, registou-se um dos maiores eventos de “branqueamento” de sempre na Grande Barreira de Coral, na Austrália, com estimativas a apontarem para 73% de recifes afetados.

Caso a temperatura marinha se mantenha elevada durante muito tempo, as zooxantelas podem não recolonizar os recifes, que, com o tempo, podem mesmo morrer. Se isso acontecer, espécies de peixes que sejam capazes de viver noutros tipos de habitats, ou seja, que não dependam absolutamente dos recifes de coral, serão obrigados a dispersar para outras zonas, nas quais não estarão tão concentrados.

Essa dispersão poderá ter impactos no setor da pesca, uma vez que as capturas poderão ser mais difíceis e dispendiosas. A conclusão é de um estudo, publicado recentemente na revista ‘Marine Resource Economics’, de investigadores da Instituição Oceanográfica Woods Hole e da Universidade Clarkson.

O trabalho revelou que duas espécies de peixe com valor comercial para o setor da pesca australiano seriam fortemente impactadas pela redução dos recifes de coral: a Plectropomus leopardus e a Lutjanus malabaricus. Ambas dependem dos recifes como habitat primário e a primeira espécie, como se pode ler no artigo, é mesmo “uma das mais comercialmente importantes” na região da Grande Barreira de Coral.

Os investigadores alertam que a redução da área coberta por recifes de coral levará, inevitavelmente, à redução das populações dessas espécies e à consequente redução das capturas. Sendo que se estima que essas pescarias gerem entre 27 e 31 milhões de dólares australianos (cerca de 16-19 milhões de euros), os efeitos económicos da perda dos corais serão significativos.

Os autores salientam que os recifes de coral são elementos centrais das economias de diversas comunidades, apoiando o turismo e a pesca, bem como essenciais para a sobrevivência de várias espécies de animais. Yaqin Liu, primeira autora do artigo, explica, em comunicado, que o setor da pesca na região tem já procurado minimizar os seus impactos negativos nos recifes de coral “ao integrar abordagens sustentáveis”.

Contudo, avisa que “os impactos humanos, como o aquecimento e a acidificação dos oceanos, ameaçam ainda mais os recifes de coral e os rendimentos da pesca”.

Compreender e prever de que forma os recifes de coral afetam as populações de peixe com valor comercial, argumentam os investigadores, “é imperativo para a subsistência das comunidades piscatórias dos recifes” e apelam a esforços de restauro desses altamente dinâmicos e diversos, mas frágeis, habitats, sugerindo que “poderemos beneficiar da captura de espécies que sejam mais resilientes às alterações ambientais e da conservação daquelas que são mais vulneráveis”.





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