Pesquisadora moçambicana pede conservação da biodiversidade incluindo populações

A pesquisadora moçambicana Máriam Abbas considerou ontem que as iniciativas de conservação da biodiversidade necessitam levar em conta o desenvolvimento das populações locais, para evitar a continuação de conflitos e perdas de vidas humanas.
“Se não criarmos mecanismos para desenvolver as comunidades que são diretamente afetadas pela criação desta área de conservação (…) o que vai continuar a acontecer é que vai continuar a haver exploração ilegal”, disse Máriam Abbas, em Maputo, durante a conferência sobre estratégia de integração da biodiversidade no desenvolvimento agrário e rural sensível ao contexto socioecológico local.
A pesquisadora do Observatório do Meio Rural (OMR) indicou que, incorporando essa preocupação, o primeiro ganho é que a população será “responsável por cuidar da biodiversidade no dia-a-dia”. Em contraponto, ao excluir as comunidades das zonas tampão, corre-se o risco de, após as invasões dessas áreas protegidas, haver penalizações, e a longo prazo “aumentar a pobreza”.
“Nós temos de considerar medidas que procurem integrar estas duas componentes. Por um lado, sim, queremos conservar a biodiversidade, mas isto deve ser feito também tendo em consideração o desenvolvimento das comunidades, porque as comunidades foram as primeiras a aparecer”, defendeu.
Num país em que a agricultura familiar é predominante e a expansão da área agrícola é a principal ameaça à biodiversidade moçambicana, existem relações de conflito e complementaridade entre alívio da pobreza, conservação da biodiversidade e segurança.
De acordo com a pesquisadora, há necessidade de estabelecer estratégias locais para a integração da biodiversidade no desenvolvimento agrário e rural, levando em conta o contexto socioecológico local, bem como articular essas estratégias a nível nacional.
As conclusões estão no estudo “Introdução ao Projeto FARSYMABI”, da OMR, que visa integrar a biodiversidade no setor agrícola em Moçambique.
O projeto FARSYMABI analisou o Monte Namúli, na Zambézia, centro do país, uma área de montanha populosa com desmatamento por alta ocupação agrícola, e Chipanje Chetu, na província de Niassa, norte de Moçambique, uma área de conservação com baixa densidade e conflito homem-animal.
Em ambas, os Sistemas de Economia Familiar (SEF) mostram baixa renda e dependência agrícola, sem soluções sustentáveis para a pobreza ou a biodiversidade. A cultura da batata no Namúli, por exemplo, embora lucrativa, agrava o desmatamento.
Por outro lado, o estudo aponta potencial para aumentar a produtividade e integração no mercado, o que favoreceria a sustentabilidade das comunidades locais.