Poluição pode ‘neutralizar’ resposta imunitária dos pulmões e aumentar risco de infeções respiratórias



A população humana a nível mundial está a envelhecer e algumas previsões apontam para que, em 2050, mais de 20% será constituída por pessoas com 65 anos ou mais, pelo que se torna imperativo perceber realmente de que forma o processo de envelhecimento afeta a capacidade do organismo para combater doenças.

Um grupo de cientistas da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, afirma que, com o avançar da idade, há “um aumento significativo e evidente” quer da incidência, quer da gravidade de doenças pulmonares e do trato respiratório. Assim, quanto mais velha a pessoa, maior a vulnerabilidade a infeções respiratórias, tal como se viu durante a pandemia de Covid-19, em que a taxa de mortalidade para pessoas com mais de 75 anos era 80 vezes maior do que para jovens adultos.

Num artigo publicado na revista ‘Nature Medicine’, o coletivo de especialistas alerta agora que partículas de poluição inaladas podem acumular-se durante décadas nos pulmões, em nódulos linfáticos, e enfraquecer a capacidade do organismo para combater infeções respiratórias, um quadro que se agrava com a idade.

Inicialmente, os investigadores não estavam exatamente a investigar os impactos da poluição no sistema imunitário humano, mas no decurso da análise de tecidos de dadores de órgãos falecidos perceberam que os nódulos linfáticos nos pulmões apresentavam uma coloração escura, ao passo que o mesmo tipo de nódulos noutras partes do corpo exibiam uma cor mais clara.

Os investigadores perceberam também que os nódulos linfáticos pulmonares eram mais escuros quanto mais velha fosse a pessoa. Donna Farber, uma das autoras do artigo, explica que, depois de a equipa de cientistas ter percebido que os nódulos mais escuros estavam repletos de partículas de poluição, “começámos a pensar sobre qual seria o sei impacto na capacidade dos pulmões para combaterem infeções à medida que as pessoas envelhecem”.

A investigação baseou-se na análise de tecidos de 84 doadores de órgãos humanos já falecidos, com idades compreendidas entre os 11 e os 93 anos, todos não-fumadores.

Descobriram que as partículas de poluição nos nódulos linfáticos pulmonares estavam dentro de células conhecidas como macrófagos, cuja função é ingerir e destruir bactérias, vírus e outras substâncias que possam ser prejudiciais para o organismo.

Cheios de partículas poluentes, esses macrófagos ficavam impedidos de neutralizar outras substâncias perigosas e de produzir sinais químicos para alertar outras células do sistema imunitário para a presença de ameaças.

“Essas células imunitárias estavam simplesmente sufocadas por partículas e não podiam desempenhar funções essenciais para ajudar o organismo a defender-se de patógenos”, elucida Farber, que reconhece que “ainda não sabemos totalmente qual o impacto que a poluição tem no sistema imunitário do pulmão”.

Ainda assim, a especialistas assinala que “sem sombra de dúvida, a poluição influencia a criação de infeções respiratórias mais perigosas em pessoas mais velhas”, pelo que salienta que é necessário fazer mais para melhorar a qualidade do ar que respiramos.

Os especialistas acreditam que os resultados desta investigação devem ser vistos como uma chamada à ação, uma vez que traçam uma relação entre a exposição à poluição do ar e a maior suscetibilidade de pessoas mais velhas a infeções respiratórias.





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