Poluição por mercúrio ameaça aligátores e outros animais no sudeste dos EUA



Investigadores detetam altos níveis de mercúrio nas águas de zonas húmidas na Geórgia e na Carolina do Sul, nos Estados Unidos da América (EUA). A descoberta foi feita graças ao estudo dos aligátores-americanos (Alligator mississippiensis) que vivem nesses ambientes.

Ao estudarem esses répteis na área pantanosa de Okefenokee Swamp, na Jekyll Island e no Centro de Vida Selvagem Yawkey, uma equipa de cientistas, liderada pela Universidade da Geórgia, encontrou em aligátores no primeiro local níveis de mercúrio oito vezes superiores aos detetados em animais nos outros dois.

Para Kristen Zemaitis, primeira autora do artigo publicado na revista ‘Environmental Toxicology and Chemistry’, os aligátores são “criaturas muitos antigas” que podem servir de indicadores do estado dos ecossistemas em que vivem. Além disso, sendo predadores de topo, ajudam a formar uma imagem mais clara do que se passa ao longo de toda a cadeia alimentar.

Embora seja um elemento que ocorre naturalmente, quantidades maiores de mercúrio podem chegar ao ambiente através de escoamentos de zonas industriais, criando concentrações excessivas e potencialmente nocivas para as formas de vida afetadas, especialmente ao nível do seu sistema nervoso e da reprodução.

Além disso, o mercúrio, considerado uma neurotoxina, vai-se acumulando no organismo dos animais, pelo que os que estão no topo das cadeias alimentares acabam por ter concentrações muito maiores do que as presas das quais se alimentam.

A deteção de quantidades elevadas de mercúrio nos aligátores de Okefenokee Swamp foi possível graças ao estudo a dieta dos animais e à análise de amostras de sangue. No total das três áreas abrangidas por esta investigação, foram analisados mais de 100 aligátores.

Para os investigadores, o facto de grandes quantidades de mercúrio terem sido encontradas nesses predadores significa que “a toxina pode facilmente subir pela cadeia alimentar”, com impactos que podem chegar até nós, humanos.

Segundo os cientistas, as pessoas e comunidades que pescam nessas zonas húmidas estão também expostas ao risco de contaminação por mercúrio, especialmente porque as águas do Okefenokee Swamp alimentam os rios Suwannee e St. Marys, alargando o potencial de exposição ao elemento tóxico a outras regiões e populações de peixes.

Cria de aligátor descansa no topo da cabeça de um adulto. Foto: Zygy / Wikimedia Commons.

A contaminação por mercúrio, alertam os investigadores, pode ser “uma grande preocupação” para as pessoas que podem estar a consumir peixe ou outras espécies de animais que vivem em rios, pântanos e oceanos, ou perto deles, e que têm altos níveis de mercúrio.

“Num dado ecossistema, existem alguns organismos que são conseguem tolerar quantidades muito baixas de mercúrio, o que pode resultar em problemas neurológicos, reprodutivos e até em morte”, aponta Zemaitis.

A quantidade de mercúrio presente nos organismos dos aligátores não depende apenas do local onde vivem, mas também, e talvez sobretudo, de há quanto tempo aí vivem.

Os resultados da investigação sugerem que aligátores mais velhos e maiores são os que apresentam concentrações mais elevadas do elemento tóxico, pois “à medida que crescem e começam a comer animais maiores” aumenta também “a quantidade de mercúrio que acumulam”, afirma Benjamin Parrott, coautor do artigo.

Mais preocupante ainda é o facto de tudo indicar que o mercúrio está a ser passado das progenitoras para as crias, com os níveis de mercúrio a serem “herdados” dos pais.

Não se sabe ainda ao certo de onde provém o mercúrio que foi encontrado nas zonas húmidas da Geórgia e da Carolina do Sul, mas a investigadora Kristen Zemaitis diz que quer localizar a sua fonte e perceber de que forma está a afetar outros animais nesses ecossistemas.






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