Por que é que uma cidade suburbana inglesa vai contratar um escritor a full time?
Nos anos 60, o Governo britânico decidiu criar uma série de cidades médias à volta da Grande Londres, de forma a reduzir o congestionamento habitacional da capital do país. Foi aí que, nos anos 60, começou a crescer Milton Keynes, situada 72 quilómetros a noroeste de Londres e que hoje tem 220.000 habitantes.
Porém, a cidade não tem a glamour londrino ou a cultura de outras metrópoles britânicas. Para tornar a cidade mais apelativa a futuros moradores e até a turistas, os autarcas decidiram contratar um escritor a tempo inteiro, que terá como missão contar histórias, verídicas ou ficcionais, passadas em Milton Keynes, de forma a colocá-la no mapa e ajudar a curar a falta de arrojo cultural.
“Hoje, Milton Keynes continua a ser o não-lugar que foi planeado para ser”, explicou ao Guardian o crítico de arquitectura Owen Hatherley, que admite que a cidade é uma combinação de visão utópica e realidade Thatcheriana.
Segundo o Guardian, os interessados em concorrer ao lugar irão “fornecer [à cidade] e criar histórias de ficção e não-ficção para vários eventos de arte pública no centro de Milton Keynes, que possam fazer parte de um projecto de storytelling posterior”.
O objectivo é ajudar a “vender” Milton Keynes como “um local fantástico para viver, trabalhar e visitar”. Para já, a publicidade do cargo já está a colocar a cidade, que completa 50 anos em 2017, no mapa.
Milton Keynes não foi a primeira cidade a contratar um escritor a tempo inteiro, agora que os escritores são usados como armas para fomentar o turismo cultural numa época de globalização. “Se a vossa cidade não tem uma herança literária rica para atrair, por si só, turistas, então se calhar está na altura de alguém a escrever”, explica o Guardian.
E o jornal britânico dá alguns exemplos: quando Reiquejavique foi nomeada Cidade de Literatura pela Unesco, em 2011, convidou várias pessoas para escreverem sobre a cidade. A cidade de Plymouth, Inglaterra, tem um escritor residente desde 2011, a poetiza Hannah Silva, cujo objectivo é aumentar o número de leitores e amantes de cultura na cidade. Também cidades como Praga (República Checa), Viena (Áustria) ou Seattle (Estados Unidos) têm escritores residentes. E em Portugal, existe algum projecto semelhante?
Foto: Milton Keynes por Brian Smithson / Creative Commons