Porto: “Áreas de vegetação diminuíram drasticamente desde 1947”, revelam investigadores



As áreas de vegetação, especialmente herbácea, na cidade do Porto sofreram uma redução significativa nas últimas sete décadas. E as que restam são poucas, estão degradadas e vulneráveis à expansão urbana.

A conclusão é de um estudo realizado por cientistas da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e dos centros de investigação Biopolis-CIBIO e CIIMAR, publicado recentemente na versão online da revista ‘Landscape and Urban Planning’.

Fotos aéreas mostram a redução da cobertura vegetal no Porto. Da esquerda para a direita: 1947, 1979, 2019.
Fonte: Biopolis-CIBIO e Universidade do Porto

Através da análise de fotografias aéreas tiradas entre 1947 e 2019, a equipa verificou que “as áreas de vegetação no Porto diminuíram drasticamente desde 1947, particularmente as áreas de vegetação herbácea” e que “as áreas de vegetação herbácea persistente são muito escassas, enfrentam problemas de degradação e são altamente suscetíveis à expansão urbana”, informa Filipa Guilherme, primeira autora do artigo, em comunicado.

Ainda assim, descobriu-se que “as áreas de vegetação arbórea-arbustiva mais antigas são reduzidas, mas encontram-se relativamente preservadas e protegidas em parques e jardins, especialmente de acesso público”, acrescentou.

O trabalho surgiu da noção de que a devida gestão da biodiversidade é limitada pela falta de informações espaciais e temporais precisas, algo que “impede uma boa integração em políticas e planos de ordenamento e gestão territorial a nível local”. Como tal, o objetivo principal era construir uma linha temporal das alterações da cobertura vegetal no Porto e identificar “as áreas de vegetação mais estáveis e menos perturbadas da cidade” a fim de melhor conservá-las.

Entre as áreas antigas de vegetação herbácea nessa região, desaparecidas devido ao avanço urbanístico, os investigadores indicam “a zona das ribeiras de Nevogilde e da Ervilheira, onde se prevê a construção da futura Avenida Nun’Álvares/D. Pedro IV e urbanizações associadas; os campos agrícolas da antiga Quinta da Prelada, onde está prevista a construção de uma academia de futebol em terrenos apontados no PDM como espaços fundamentais para a estrutura ecológica municipal; e também antigos campos agrícolas na zona de Ramalde do Meio-Viso-Requesende, onde uma mancha significativa de habitat herbáceo identificada no estudo foi recentemente destruída”.

Paulo Farinha Marques, outro dos autores do estudo, explica que “a identificação, a uma escala fina, do valor ecológico de cada parcela urbana, com base no princípio de que as áreas menos perturbadas ao longo do tempo apresentam níveis de biodiversidade mais elevados, facilita a tomada de decisão em políticas de planeamento urbano e projetos urbanísticos, tanto à escala da cidade, como à escala de cada parcela urbana”.

Os investigadores consideram que os resultados obtidos devem agora ser complementados com “o afinamento da resolução temporal (ou seja, incluir intervalos de tempo mais curtos) para melhor capturar a dinâmica acelerada de transformação urbana”, bem como através de “informação recolhida no terreno, particularmente sobre as comunidades de flora e fauna existentes em cada local”.

Miguel Carretero, que também assinado o artigo, argumenta que “no futuro, a conservação e gestão da biodiversidade nas muitas zonas onde ela sofre perturbação deverá estar baseada em evidência numa escala espacial fina e não poderão ignorar a componente histórica da paisagem”.





Notícias relacionadas



Comentários
Loading...