Portugueses reciclam cada vez mais, mas continuam a desconfiar do sistema



Os resultados do estudo “Portugal Circular” mostram um país onde a reciclagem está profundamente enraizada, mas onde persistem desafios relevantes de confiança, conhecimento e consistência de hábitos. A maioria dos portugueses separa resíduos de forma regular, valoriza a sustentabilidade e reconhece a importância da reciclagem no quotidiano. No entanto, a falta de confiança no destino final dos materiais, as fragilidades de literacia ambiental e a menor adesão entre os mais jovens continuam a limitar a adoção plena de práticas circulares.

As conclusões são do estudo “Portugal Circular – Tendências e Atitudes”, promovido pelo Group Gate, em parceria com a Netsonda, que analisa em profundidade os comportamentos, perceções e níveis de literacia ambiental dos portugueses no que respeita à gestão de resíduos e práticas de reciclagem. Com uma amostra representativa de 500 indivíduos entre os 18 e os 64 anos, o retrato que emerge é o de uma sociedade cada vez mais consciente, mas ainda marcada por dúvidas e assimetrias geracionais e regionais.

60% dos portugueses recicla sempre, mas jovens têm menor consistência

O estudo revela que 60% dos portugueses separa sempre os resíduos por categorias, com maior incidência nos 35-44 anos (70%) e na Grande Lisboa (71%). Entre os mais jovens (15-24 anos), apenas 53% mantem esta disciplina, o que evidencia diferenças comportamentais geracionais. Além disso, 59% trata dos resíduos diariamente, demonstrando um padrão consistente de gestão doméstica.

Já a utilização dos ecopontos é elevada, com 29% dos portugueses a afirmar que se desloca mais de 16 vezes por mês aos pontos de reciclagem, um comportamento mais frequente nas mulheres e na faixa etária dos 45-64 anos. A região Sul destaca-se, atingindo os 37%.

Plástico e papel/cartão lideram a reciclagem, com 91% de adesão

Os materiais mais reciclados pelos portugueses continuam a ser o plástico e o papel/cartão, ambos com uma adesão de 91%, seguidos de perto pelo vidro (88%). A reciclagem de pilhas também apresenta uma adesão relevante, atingindo 70%, enquanto o metal permanece claramente abaixo da média, com apenas 51% dos inquiridos a separá-lo. Estes resultados confirmam uma forte adesão dos fluxos mais comuns, mas revelam também áreas onde o comportamento ainda pode ser reforçado.

Quando analisadas as motivações para reciclar, o estudo confirma o peso dominante da ética ambiental: 81% dos portugueses afirma separar resíduos para contribuir para a sustentabilidade do planeta e 76% indica fazê-lo porque “é a coisa certa a fazer”. Em contraste, os incentivos materiais têm um impacto residual, com apenas 5% a referir recompensas como estímulo para esta prática. Estes dados reforçam a importância de estratégias de comunicação que valorizem o compromisso cívico e o impacto coletivo das ações individuais.

Falta de confiança lidera barreiras à reciclagem

Entre os portugueses que não separa resíduos, a principal barreira é a falta de confiança no sistema, com 29% a acreditar que os materiais separados não são efetivamente reciclados.

Entre os portugueses que não separam resíduos, a principal barreira é a falta de confiança: 29% duvidam que os materiais separados sejam efetivamente reciclados

A este fator juntam-se outros motivos relevantes, como a perceção de ausência de benefícios (21%) e a falta de tempo (21%), revelando que as dificuldades vão além de questões práticas e tocam também na credibilidade e na perceção de utilidade do processo.

A literacia ambiental continua igualmente a mostrar fragilidades significativas. Embora 78% dos inquiridos afirmem conhecer o conceito dos 3Rs (Reduzir, Reutilizar e Reciclar), apenas 44% sabem o que é economia circular e 85% desconhecem o valor económico dos materiais que reciclam. Acresce que 23% não sabem qual o destino final dos resíduos após a recolha, um sinal evidente de falhas de comunicação institucional e da necessidade de reforçar a transparência e a pedagogia em torno do sistema de reciclagem.

92% dos portugueses querem acesso a estatísticas locais de reciclagem

O desejo por transparência é generalizado: 92% dos portugueses gostariam de ver publicadas estatísticas de recolha de resíduos na sua zona de residência. A valorização de ferramentas digitais também é elevada: 73% consideram importante ou muito importante ter acesso a uma app ou site com dados sobre reciclagem.

No que diz respeito às fontes de informação sobre reciclagem e sustentabilidade, a internet mantém um papel dominante, com 69% dos inquiridos a recorrerem a motores de pesquisa como primeira opção. A televisão surge em segundo lugar (46%), seguida das redes sociais (36%), cuja relevância aumenta de forma significativa entre os mais jovens. Apesar desta presença digital, a influência de criadores de conteúdos especializados continua a ser residual: apenas 6% afirmam seguir influencers ligados à sustentabilidade e apenas 2% ouvem podcasts sobre o tema. Estes dados sugerem que, embora os canais digitais tenham um peso crescente, a mediação por especialistas ou comunicadores dedicados ainda não está plenamente consolidada junto do público.

“O estudo revela que os portugueses estão cada vez mais atentos à reciclagem e dispostos a integrar práticas sustentáveis no quotidiano, embora existam áreas com margem de evolução. Estes resultados mostram uma oportunidade clara para reforçar a comunicação pública, investir em literacia ambiental e aumentar a transparência sobre o destino e impacto dos resíduos, aproximando os cidadãos das políticas de sustentabilidade”, afirma Pedro Costa, Head of Data & Analytics do Group Gate.






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