Províncias angolanas do Moxico e Cuando Cubango com “risco elevado” de desastres climáticos
As províncias angolanas do Moxico e Cuando Cubango “têm um perfil de risco elevado” face a fenómenos climáticos extremos e “podem chegar a uma situação de desastre”, revela o “Estudo sobre Direitos Ambientais e Direitos Humanos em Angola”.
O estudo, realizado nos municípios do Moxico e Bundas (província do Moxico) e Menongue (província do Cuando Cubango) e promovido pela organização não-governamental Mosaiko, foi hoje apresentado em Luanda.
De acordo com o estudo, inundações, secas, ravinas, deslizamentos de terras e poluição do ambiente, especialmente de rios e pontos de água, são fenómenos climáticos que podem vir a afetar as duas províncias do sudeste e leste de Angola.
“A desflorestação (ou desmatamento) maciça é um dos principais problemas ambientais das duas províncias, bem como as consequências que esta provoca”, refere a análise, lembrando que o falecido bispo do Luena, Tirso Blanco, foi uma das pessoas que denunciou as más práticas associadas à produção de madeira no Moxico, relatando a maciça exploração madeireira por parte de diversos grupos de interesse.
Nos últimos 25 anos, destaca o estudo, o clima das duas províncias mudou consideravelmente, chegando a aumentar em quase um grau centígrado, o que “provocou transformações climáticas consideráveis que vão aumentar a ocorrência de eventos extremos e quase desconhecidos até então para estas províncias (sobretudo para o Moxico), que terão um impacto alarmante: as secas”.
“As projeções climáticas para o período 2051-2100, por exemplo, indicam que a quantidade de pessoas expostas a secas deverá aumentar em Angola, com alguns aumentos significativos, nomeadamente, no Moxico, sobretudo os municípios de Moxico e Bundas, mas também o município de Menongue, no Cuando Cubango”, salienta o estudo.
Esses eventos climáticos vão ter ainda como consequência uma diminuição da produção agrícola e da criação animal, levando a uma perda monetária, que afetará os agregados familiares, especialmente as mulheres, e o rendimento familiar.
Federica Pilia, que apresentou o estudo, destacou que, nos últimos dez anos, Angola está a ser afetada por diferentes fenómenos climáticos extremos, citando a situação no sul do país, em particular nas províncias do Namibe, Huíla, Cunene, sul de Benguela e Cuando Cubango, quanto à seca, mas algumas também têm sofrido inundações.
“Angola está a ter problemas com a degradação das costas, está a ter o aumento das temperaturas devido à diminuição das chuvas ou chuvas repentinas, que não permitem o desenvolvimento, por exemplo, da agricultura”, disse Federica Pilia, realçando que, no futuro, “esse cenário não vai ser melhor”.
Segundo Federica Pilia, o município de Bundas é um dos que regista em Angola a mais alta percentagem de pessoas vulneráveis à pobreza multidimensional, ou seja, não só económica, mas no acesso à educação, saúde, habitação segura, registo civil.
“A água potável, na província do Moxico, 65% das comunidades não tem acesso. Isto cria de facto uma violação muito elevada dos direitos humanos, sobretudo numa província “riquíssima em recursos hídricos”, frisou.
Em declarações à imprensa, o diretor-geral do Mosaiko, frei Júlio Candeeiro, disse que o estudo lança um desafio à sociedade sobre esta problemática, sobretudo para os governantes, no sentido de promover na prática as leis existentes sobre o ambiente.
“É preciso mostrar com vontade política o nosso desejo de um melhor ambiente, através da alocação de verbas para um determinado setor”, disse, reiterando que o Governo tem de disponibilizar mais verbas para o ambiente.
O estudo foi realizado no âmbito do projeto USAKI, com apoio financeiro da União Europeia e cofinanciamento do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, de Portugal.