Quais as prioridades na recuperação de ecossistemas na Europa? Equipa internacional define cem questões
Uma equipa internacional de investigadores, decisores políticos, gestores e proprietários de terrenos identificou as cem questões prioritárias para a recuperação de ecossistemas na Europa. O estudo agora publicado, coordenado pela Universidade de Cambridge (Reino Unido) e no qual Portugal participa, irá permitir identificar novas direcções para a investigação e para a elaboração de políticas de recuperação de ecossistemas na Europa.
A actividade humana está na origem de danos graves e por vezes irreversíveis na Natureza, como a extinção ou quase-extinção de diversas espécies e a perda de recursos naturais. A recuperação de ecossistemas degradados ou destruídos tem recebido crescente atenção das esferas política e científica e assume especial importância na Europa – uma região densamente ocupada e transformada pelo Homem – a fim de melhorar a capacidade dos ecossistemas para suprir as necessidades presentes e futuras de milhões de pessoas e contribuir para a conservação da biodiversidade.
A recuperação de ecossistemas é uma tarefa tipicamente complexa e interdisciplinar. As escalas geográficas envolvidas podem ir desde alguns quilómetros quadrados a corredores ecológicos que atravessam continentes, abrangendo diversos habitats e espécies e atravessando barreiras políticas.
No sentido de identificar as lacunas de conhecimento existentes nesta área e ajudar a desenhar projectos de recuperação de ecossistemas mais eficazes, uma equipa internacional de 37 investigadores, decisores políticos e representantes de organizações não-governamentais identificou aquelas que consideram serem as cem questões prioritárias nesta área para a Europa.
Algumas destas questões assumem especial relevância para Portugal, como por exemplo: quais as estratégicas de restauro ecológico que tentam evitar os incêndios de elevada intensidade?; como é que o restauro ecológico de paisagens agro-florestais poderia aumentar a prestação de serviços de ecossistema num contexto de alterações climáticas?; que políticas poderiam incentivar e apoiar o restauro ecológico de paisagens degradadas, danificadas ou em risco de incêndio?; quais as populações mais vulneráveis às mudanças climáticas e como pode o restauro ecológico à escala da paisagem contribuir para diminuir a sua vulnerabilidade?
“Quando não conseguimos conservar os ecossistemas e os degradamos tanto que eles perdem as suas funções básicas, resta-nos restaurá-los. Ainda nos falta muito conhecimento sobre como restaurar os ecossistemas, mas ao focarmo-nos em algumas questões específicas podemos contribuir para definir prioridades e direccionar o esforço de investigação e o investimento”, explica Cristina Branquinho, investigadora do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais – cE3c (Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa) e uma das autoras do estudo.
Após uma primeira fase via e-mail, em que os autores consultaram colegas e compilaram várias centenas de questões relevantes nesta área, a lista foi sendo gradualmente reduzida e organizada em torno de grandes temas como conservação da biodiversidade, serviços dos ecossistemas, economia e governança, entre outros. Este processo culminou num workshop de dois dias em Cambridge, Reino Unido, no final de 2017, em que os autores chegaram à lista final de cem questões prioritárias.
Os autores pretendem através desta lista estimular o debate e contribuir para que a investigação nesta área do Restauro Ecológico vá ao encontro dos objectivos europeus para conservação da biodiversidade, conclui Cristina Branquinho.
Foto: cE3c