Quase todos em Portugal apoiam medidas para combater alterações climáticas
Quase todos os portugueses (99%) apoiam medidas para combater as alterações climáticas, questão que 66% consideram prioritária, revela o último Inquérito sobre o Clima do Banco Europeu de Investimento (BEI) divulgado hoje.
Para esta sétima edição do inquérito anual sobre o clima da instituição de financiamento a longo prazo da UE, realizado no passado mês de agosto, foram inquiridas mais de 24.000 pessoas na União Europeia (UE) e nos Estados Unidos, 1.009 das quais em Portugal.
A divulgação do estudo ocorre no mesmo dia em que se inicia em Baku, no Azerbaijão, a 29.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP29), que vai decorrer até dia 22.
Em Portugal, “as alterações climáticas encontram-se entre os cinco maiores desafios que o país enfrenta, a par da instabilidade política e a seguir ao aumento do custo de vida, ao acesso aos cuidados de saúde, à migração em grande escala e ao desemprego”, indica o comunicado do BEI sobre a sondagem.
A necessidade de adaptação às alterações climáticas é reconhecida por 99% dos inquiridos no país, mais do que a média da UE de 94%, e 66% (16% acima da média do bloco europeu) consideram que essa adaptação é uma prioridade.
Para 95% (86% na UE), o investimento na adaptação às alterações climáticas pode ajudar a criar emprego e a estimular a economia local, pensando a mesma percentagem que tal deve ser feito agora “para evitar custos mais elevados no futuro”.
“As pessoas sabem que temos de agir agora para nos adaptarmos e atenuarmos os efeitos das alterações climáticas, mas uma transição bem planeada é também a que faz mais sentido do ponto de vista económico. Cada euro investido na prevenção e na resiliência permite poupar entre cinco e sete euros na reparação dos danos”», afirmou a presidente do BEI, Nadia Calviño, citada no comunicado.
A frequência e gravidade dos fenómenos climáticos extremos devido à ação humana, como foi o caso das recentes tempestades e inundações em Espanha que causaram mais de 200 mortos e danos em infraestruturas de abastecimento, comunicações e transportes, mostram a necessidade de acelerar políticas que travem o aquecimento global.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou na quinta-feira para o facto de as alterações climáticas estarem a deixar as pessoas doentes, indicando que agir rapidamente é “uma questão de vida ou de morte”.
A Europa é, atualmente, “o continente que regista o aquecimento mais rápido”, segundo um relatório da Agência Europeia do Ambiente.
Segundo o inquérito do BEI, 86% dos portugueses (seis pontos percentuais acima da média da UE) foram afetados por pelo menos um fenómeno meteorológico extremo nos últimos cinco anos.
“Mais especificamente, 63% (oito pontos acima da média da UE) foram atingidos por calor extremo e ondas de calor, 48% (27 pontos acima da média da UE) enfrentaram incêndios florestais e 43% (oito pontos acima da média da UE) foram afetados por secas”, refere o comunicado.
Em relação a consequências dos fenómenos climáticos extremos, 28% dos portugueses questionados disseram ter tido florestas ou espaços naturais destruídos perto das suas habitações (mais nove pontos percentuais do que a da média da UE) e 24% disseram ter sofrido problemas de saúde, como insolação ou problemas respiratórios.
O inquérito revelou ainda que 77% dos portugueses (72% na UE) reconhecem que terão de mudar e adaptar o seu estilo de vida devido às alterações climáticas, pensando 37% que terão de mudar-se para um local menos vulnerável ao clima, mesmo que seja na mesma região, e 30% que terão de mudar-se para uma região ou para um país mais fresco.
Para a adaptação às alterações climáticas, 52% (38% na UE) defende que se eduquem os cidadãos para agirem de modo a prevenir e enfrentar os fenómenos climáticos extremos, 38% consideram prioritário apostar no arrefecimento das cidades e 37% na melhoria das infraestruturas.
Os custos da adaptação devem ser pagos “pelas empresas e indústrias que mais contribuem para as alterações climáticas” segundo 49% (14 pontos percentuais a mais que a média europeia), enquanto 30% defendem que “todos devem pagar o mesmo” e 8% que sejam os mais ricos a suportá-los, através de impostos mais elevados.
Quanto às ajudas para a adaptação, 25% dos portugueses disseram que os primeiros beneficiários devem ser as pessoas que vivem em zonas de alto risco, 32% que deve ser dada prioridade aos idosos e 38% que “todos devem beneficiar de igual modo”.
“A maioria dos portugueses (67%, 10 pontos acima da média da UE) reconhece a necessidade de apoiar os esforços de adaptação a nível mundial e considera que o seu país deve fazer mais para ajudar os países em desenvolvimento mais vulneráveis a adaptarem-se aos impactos crescentes das alterações climáticas”.
O comunicado indica ainda que em 2023 o investimento do BEI em Portugal dedicado à ação climática e à sustentabilidade ambiental atingiu os 746 milhões de euros.
A COP29 deverá ser marcada pelas negociações do chamado “novo objetivo quantificado coletivo” (NCQG na sigla em inglês) de financiamento para a ação climática.
Pretende-se estabelecer um novo valor da ajuda financeira Norte-Sul para a luta e adaptação às alterações climáticas, depois de na conferência do ano passado os países terem concordado com uma transição para o abandono dos combustíveis fósseis nos sistemas energéticos e em triplicar a capacidade das energias renováveis até 2030.