Quatro países em projeto de sete anos para proteger ave que passa inverno no Tejo



Quatro países vão unir-se num projeto para proteger o Maçarico-de-bico-direito, uma ave cuja sobrevivência está ligada à qualidade das zonas húmidas em Portugal, especialmente do estuário do Tejo.

O projeto internacional de conservação, “LIFE Godwit Flyway”, vai ser apresentado na sexta-feira, quando se assinala o Dia Mundial das Zonas Húmidas, e junta Portugal, Alemanha, Países Baixos e Gâmbia. Tem um financiamento total superior a 15 milhões de euros e uma duração de sete anos.

As ações previstas nos vários países têm como objetivo proteger o Maçarico-de-bico-direito (‘Limosa limosa’), “uma ave aquática migratória emblemática e cuja sobrevivência está intrinsecamente ligada à qualidade das nossas zonas húmidas”, dizem os responsáveis pelo projeto do lado português em comunicado, acrescentando que as ações em Portugal vão decorrer no estuário do Tejo, “a maior e mais importante zona húmida do país para aves aquáticas”.

Assente no conhecimento de um consórcio de ecologistas e conservacionistas dos quatro países, as ações destinam-se a fortalecer e expandir as condições nas áreas de reprodução na Alemanha, restaurar habitats nas zonas húmidas da Gâmbia (para onde parte das populações migram no inverno) e melhorar os habitats nas zonas de paragem migratória no estuário do Tejo.

José Alves, investigador do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM), da Universidade de Aveiro, biólogo e especialista em aves, explicou à Lusa o lado português do projeto, que junta o CESAM e a Companhia das Lezírias (Ministério da Agricultura), financiado pela União Europeia.

Sendo a Companhia das Lezírias a dona de uma série de propriedades no estuário do Tejo, o projeto vai gerir algumas delas para criar um “habitat de excelência” para os Maçarico-de-bico-direito, uma ave com estatuto de quase ameaçada, devido ao declínio acentuado, e que permanece em Portugal entre outubro e março.

De acordo com José Alves a espécie teve uma redução de 40% nas últimas três décadas.

A maior parte das áreas de reprodução são na Alemanha e nos Países Baixos. No final de época de reprodução parte das populações migram para a zona da Gâmbia, dirigindo-se depois ao estuário do Tejo. Outra parte vem diretamente para Portugal, contou o especialista, explicando que entre dezembro e março chega a estar no estuário do Tejo 60% a 70% da população do norte da Europa (quando os dois grupos se juntam). No passado chegaram a ser 90 mil aves, hoje serão no máximo 50 mil.

Entre as ações de conservação a desenvolver está a gestão das zonas de arrozal, que as aves usam fora da época de produção de arroz, a recuperação de antigas salinas (salinas Saragoça), porque os tanques de produção de sal desativados, desenhados para diferentes níveis de água, são um bom habitat e ainda intervenção nos sistemas hídricos das lagoas costeiras, “para manter um mosaico de habitats independente do regime das chuvas”, além de ações de divulgação e sensibilização nas escolas e nas autarquias.

José Alves insiste na importância do estuário do Tejo, fala de zonas húmidas em Espanha que já não existem devido ao aquecimento global o que leva as aves a serem empurradas para “o oásis” que é o estuário, que recebe 300 mil aves aquáticas.

E fala do projeto do aeroporto do Montijo, que esta semana sofreu mais um revés ao ver o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas chumbar a prorrogação da Declaração de Impacto Ambiental (DIA), apoiado em novos estudos, um deles em que José Alves esteve envolvido. “Colocar um aeroporto seria contraditório. É a mais importante zona húmida do país”. É um “hub” na rota migratória do Atlântico Leste.

O projeto é apresentado no EVOA – Espaço de Visitação e Observação de Aves, em Vila Franca de Xira.

O Dia Mundial das Zonas Húmidas está associado à Convenção de Ramsar, em vigor desde 1975 e à qual Portugal aderiu. Destina-se a impulsionar a cooperação para a promoção da sustentabilidade das zonas húmidas.





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