RDCongo: Terceira maior mina de estanho do mundo retoma atividades

O grupo mineiro Alphamin anunciou ontem que está a retomar gradualmente as operações em Bisie, no leste da República Democrática do Congo (RDCongo), após as atividades terem sido recentemente suspensas devido ao conflito na região.
O anúncio surge numa altura em que várias fontes afirmam que o Governo democrático-congolês e o grupo rebelde Movimento 23 de Março (M23), apoiado pelo Ruanda, têm delegações no Qatar.
Há várias semanas que Doha, capital do Qatar, tenta organizar conversações de paz diretas entre as duas partes, mas não é claro se as conversações estão de facto a ter lugar hoje.
As tentativas diplomáticas para resolver a crise, incluindo a mediação de Angola, país lusófono, falharam todas até à intervenção surpresa do Qatar, no mês passado, que conseguiu reunir em Doha os Presidentes da RDCongo, Félix Tshisekedi, e do Ruanda, Paul Kagame.
Os dois chefes de Estado, respondendo a um convite do emir Tamim ben Hamad Al-Thani, falaram de um cessar-fogo.
Em meados de março, uma ofensiva do grupo armado na cidade de Walikale obrigou a Alphamin, terceira maior mina de estanho do mundo em termos de produção, a suspender as operações nas suas instalações perto de Bisie.
No entanto, no início de abril, paralelamente a uma visita a Kinshasa do conselheiro para África dos Estados Unidos (EUA), Massad Boulos, o grupo M23 retirou-se de Walikale.
Durante a visita do conselheiro de Donald Trump, o Presidente da RDCongo, que procura apoio para pôr fim ao conflito, também discutiu um acordo de exploração mineira, sobre o qual não foram dadas quaisquer informações sobre as contrapartidas que estabelece, nomeadamente em termos de segurança.
Boulos afirmou, na terça-feira, que os EUA esperam que a Alphamin “retome ou anuncie em breve o reinício das suas atividades”.
O enviado de Trump falava a partir de Kigali, capital do Ruanda, para onde se deslocou após a sua visita a Kinshasa, sublinhando que as negociações de paz para pôr fim ao conflito são um “assunto interno”.
A Alphamin é detida maioritariamente pela empresa de investimento Tremont Master Holdings, sediada nas Maurícias, criada pelo gigante norte-americano de capitais privados Denham Capital.
A mina de cassiterite (minério de estanho) de Bisie produziu cerca de 17.300 toneladas de concentrado de estanho em 2024, ou seja, quase 6% da oferta mundial, segundo a Associação Internacional do Estanho (ITA, na sigla em inglês).
O pessoal essencial, nomeadamente para a segurança e manutenção do local, permaneceu no local após a suspensão, e a “logística de exportação de concentrado de estanho” continuou “sem interrupção”, segundo a Alphamin.
O leste da RDCongo, rico em recursos naturais e que faz fronteira com o Ruanda, tem sido assolado por conflitos desde há trinta anos, mas a crise intensificou-se nos últimos meses com a tomada das cidades de Goma, capital da província de Kivu do Norte, e de Bukavu, capital da província vizinha de Kivu do Sul, pelo M23.
Principal produtor mundial de cobalto, a RDCongo detém também pelo menos 60% das reservas mundiais de coltan.
Segundo maior país de África, a RDCongo é também um dos maiores produtores mundiais de lítio, tântalo e urânio, minerais raros essenciais para as tecnologias avançadas.
Grande parte da exploração mineira no leste do país, criticado pelas suas cadeias de abastecimento opacas e pela corrupção desenfreada, está nas mãos de entidades chinesas.