Recifes de coral de profundidade podem não ser ‘abrigo climático’ para espécies da superfície



Um grupo de investigadores dos Estados Unidos da América e do Brasil descobriu que os recifes de coral funcionam de forma diferente consoante a profundidade a que se encontram. Por isso, é pouco provável que os recifes mais abaixo na coluna de água possam vir a servir de refúgio a espécies de zonas mais superficiais e que procurem fugir dos efeitos das alterações climáticas.

A conclusão, apresentada num artigo publicado na ‘Current Biology’, resulta de uma investigação que contemplou mais de mil horas de mergulhos nos oceanos Pacífico e Atlântico, durante as quais os cientistas recolheram informação sobre as espécies que ocorrem nos recifes a diversas profundidades, desde as zonas mais superficiais até à zona mesofótica (onde chega menos quantidade de luz comparativamente às águas de superfície), que se situa entre os 30 e os 150 metros abaixo da superfície.

Um dos investigadores envolvidos neste estudo examina recife de coral na zona mesofótica.
Foto: Luiz Rocha / California Academy of Sciences

“Os nossos resultados reforçam que os ecossistemas mesofóticos não são necessariamente um refúgio para peixes da superfície que fogem do aquecimento das águas”, salienta Luiz Rocha, da Academia de Ciências da Califórnia e um dos principais autores do artigo.

Os recifes de coral a maior profundidade, explica o investigador, “parecem estar saturados”, o que significa que os nichos que essas espécies da superfície poderiam ocupar não estão disponíveis, estando já preenchidos por outros animais que evoluíram para se adaptarem da melhor forma às condições ambientais específicas dessas profundidades.

Por isso, essa ‘barreira ecológica’, contrariamente ao que até aqui se poderia pensar, poderá impedir o estabelecimento de espécies de ‘refugiados climáticos’ da superfície em recifes mais profundos.

A garoupa-arlequim (Cephalopholis polleni) é uma das espécies de peixe que habita os recifes na zona mesofótica.
Foto: Luiz Rocha / California Academy of Sciences

“Os ecossistemas de corais mesofóticos são únicos, vulneráveis e precisam de proteção. Não podemos depender dos recifes de profundidade como futuros habitats para espécies da superfície”, avisa Hudson Pinheiro, biólogo da Universidade de São Paulo e outro dos autores, acrescentando que os recifes superficiais e os mesofóticos “são diferentes de muitas maneiras”.

Apesar de se saber que os recifes de coral albergam uma imensa diversidade de vida, podendo, em alguns locais, chegar a rivalizar com as húmidas florestas dos trópicos em termos do número de espécies que suportam, e que são vitais para a sobrevivência de perto de 25% de toda a vida marinha, “a maior parte do conhecimento que temos sobre a biodiversidade dos recifes de coral baseia-se nas águas superficiais”, aponta Pinheiro.

E a importância de proteger os recifes mais profundos, e não apenas os que estão à vista de todos, é comprovada pelo facto de “cerca de 20% de todos os peixes dos recifes” serem encontrados “exclusivamente” na zona mesofótica, adianta Luiz Rocha, que assinala que, por essa razão, “é imperativo continuarmos a aprender sobre e a defender estes incríveis recifes de profundidade”.





Notícias relacionadas



Comentários
Loading...