Relatório aponta para “rutura notável e duradoura” do tráfico global de marfim e escamas de pangolim

Desde a pandemia de COVID-19, há quase seis anos, o tráfico de marfim de elefantes e de escamas de pangolim, à escala global, tem vindo a registar uma queda acentuada, representando uma “rutura notável e duradoura”.
De acordo com um relatório da organização Wildlife Justice Commission (WJC), nos últimos cinco anos o número de “apreensões significativas”, associadas a operações de larga escala relacionadas com associações de crime organizado e com mais de uma tonelada de peso, tendo vindo a cair consistentemente. Para os relatores, isso poderá indicar “uma mudança na paisagem criminosa” e ser fruto de esforços coordenados e de longo-prazo entre autoridades policiais de vários países.

Para Olivia Swaak-Goldman, diretora-executiva da WJC, esta “redução significativa do tráfico de escamas de pangolim e de marfim” é uma vitória para a proteção das espécies visada pelo crime contra a vida selvagem e demonstra que “a identificação proativa de chefias e traficantes de alto-nível, detenções estratégicas e uma forte cooperação internacional desestruturam profundamente as redes criminosas que operam a uma escala industrial”.
O documento salienta que cada vez mais apreensões de grande dimensão estão a ser feitas em África, nos países de origem, antes da exportação dos produtos. E salienta que na Nigéria, por exemplo, as exportações de escamas de pangolim têm decrescido, mas continuam a ser feitas apreensões relevantes de stocks de escamas no país, o que sugere a continuação das atividades criminosas e que se mantém como um dos principais centros de exportação.
Em 2019, 70% de todas as apreensões significativas de escamas de pangolim e de marfim tiveram origem na Nigéria. Estima-se que a maior parte das escamas de pangolim sejam exportadas desse país, dos Camarões, da República Democrática do Congo e do Uganda.
Desde 2022, que Angola e Moçambique surgem como centros alternativos de exportação de marfim, fruto da pressão exercida pelas autoridades nigerianas sobre as redes criminosas, o que as levou a procurarem alternativas.
“Embora não tenham sido reportadas quaisquer apreensões significativas de marfim em 2024 ligadas a Angola, informações recolhidas pelas investigações da WJC sugerem que o país está a ser favorecido como um local de exportação por redes criminosas vietnamitas”, lê-se no relatório.
O valor de mercado das escamas de pangolim, é avançado no relatório, tem caído e parece ter estabilizado, enquanto o valor do marfim, ou das presas dos elefantes, tinha já caído cerca de 50% nos cincos anos antes da pandemia, sendo que desde então até agora se manteve “relativamente estável”.
Diz a WJC que o impacto da pandemia de COVID-19 no tráfico de escamas de pangolim e de marfim, que acontece sobretudo de África para a Ásia, “não pode ser subestimado”.
A fragilidade causada pelo evento pandémico associada ao reforço da atuação das autoridades policiais parece ter estado na origem do declínio sustentado do tráfico global desses produtos nos últimos anos.
Contudo, apesar das aparentes boas notícias, os especialistas admitem que a redução do número de apreensões de grande escala poderá também dever-se a mudanças na forma de operação das redes criminosas, para evitarem a deteção, e reconhecem que a quantidade de escamas de pangolim e de marfim que está a entrar nos mercados asiáticos poderá, se assim for, maior do que se pensa.
Ainda assim, o relatório indica que esforços proativos das autoridades policiais em locais em África onde se sabe que acontece a captura e abate ilegal de pangolins e de elefantes, para fins de comércio ilegal das suas partes, “estão a ter um impacto importante”.
“Se continuarmos a exercer pressão estratégica sobre as chefias criminosas e os financiadores que alimentam este comércio ilícito, podemos aproveitar este impulso para criar uma mudança duradoura na luta contra o crime transnacional contra a vida selvagem”, sentencia Olivia Swaak-Goldman.