REPORTAGEM: Viticultores queixam-se de ano de dificuldades em Carlão em Alijó



Viticultores da freguesia de Carlão, no concelho de Alijó, falam num ano dificuldades depois da queda de granizo, doenças na vinha e cortes no benefício, e queixam-se do apoio insuficiente anunciado pelo Governo.

“Este ano a produção já é má, mas pode ficar afetada também para o ano”, afirmou António Elavai, agricultor de 69 anos da aldeia de Carlão, que foi afetado pela queda de granizo no final de maio.

Nesta aldeia ainda não se vindima, mas, por esta altura, dão-se início aos preparativos e combina-se a entreajuda entre familiares e vizinhos para o corte das uvas.

Num ano que se prevê de boa colheita de forma generalizada na Região Demarcada do Douro, em quantidade e qualidade, há localidades, no entanto, onde o mau tempo afetou as vinhas e a produção de uva.

O presidente da União de Freguesias de Carlão e Amieiro, António Oliveira, salientou que o granizo afetou a vinha e olival desta freguesia onde a principal fonte de rendimento das famílias é a agricultura.

“Tenho uma vinha onde não voltei mais. Aí a perda foi total e nem vou lá vindimar”, referiu António Elavai que contou que, antes do granizo, previa “um bom ano”.

Apesar da seca que se sentiu em 2022, o agricultor colheu 62 pipas de vinho (550 litros cada) nos seus 7,5 hectares e, este ano, antecipa que “não cheguem às 15”. “Tive tanto azar que só não me apanhou uma vinha”, referiu.

Mas “o azar” deste ano não se ficou pelo granizo. Após o mau tempo, foi necessário proceder a um tratamento à base de cálcio para cicatrizar a videira e, por causa disso, foi possível “recuperar algumas uvas” e, depois, foi também preciso fazer vários outros tratamentos contra doenças, como o míldio.

Este é também um ano de diminuição do benefício, ou seja, da quantidade de mosto que cada viticultor pode destinar à produção de vinho do Porto, e que, no seu caso, se traduz num corte de “duas pipas”.

A Região Demarcada do Douro vai transformar um total de 104 mil pipas de mosto em vinho do Porto nesta vindima, menos 12 mil do que no ano anterior,

“Deitei seis mãos de sulfate”, contabilizou António Elavai, referindo que gastou cerca “de dois mil euros em produtos” pelo que disse que o apoio anunciado pelo Governo para os agricultores afetados pelas intempéries é insuficiente.

Em meados de julho, o Governo anunciou a criação de um apoio financeiro extraordinário até ao máximo de 55 euros por hectare para minimizar os estragos nas explorações agrícolas provocados pelas intempéries ocorridas em maio e junho, no Norte e Centro”.

O ministério explicou que o apoio destina-se a compensar as despesas com a aquisição de produtos para os necessários tratamentos fitossanitários e de fertilização foliar, mas até ao momento a ajuda ainda não chegou aos agricultores de Carlão.

“Isso não dá para gasóleo que a gente gasta para ir a Alijó para receber. Dizem que dão por hectare 55 euros, isso é alguma coisa?”, afirmou Manuel Oliveira, de 60 anos, que garantiu ter feito sete tratamentos na sua vinha de “1,5 hectares”.

Só nos produtos gastou 167 euros. “A câmara disse que ajudava e até hoje ainda nada”, sublinhou.

Este produtor perspetiva que, em consequência do granizo, tenha uma quebra na produção de “cerca de 35%”.

Manuel Oliveira mostrou-se triste por todo um ano de trabalho que chega ao fim “sem resultado” e referiu ainda que se não fosse o benefício “não valia a pena”.

“Mais valia estar uma pessoa a dormir, porque só o vinho de consumo não dá para as despesas. Este ano ia tudo para os tratamentos”, frisou o agricultor.

O “preço elevado” é um entrave para estes agricultores fazerem um seguro. “Eles (seguradoras) levam o couro e o cabelo”, referiu Manuel Oliveira.






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