Restos de explorações mineiras ameaçam áreas protegidas e biodiversidade em todo o mundo
Quase um terço de todos os resíduos de mineração produzidos mundialmente estão armazenados em áreas protegidas ou perto delas, representando um grande risco de contaminação dos habitats e colocando em risco algumas das espécies mais ameaçadas do planeta.
O alerta é feito num artigo publicado esta semana na revista ‘Nature Sustanability’, que resulta de uma investigação encabeçada por cientistas da Universidade de Queensland e do Imperial College London. A equipa descobriu que das 1.721 instalações de armazenamento de resíduos de exploração mineira estudados, 9% estavam localizados dentro dos limites de áreas protegidas e 20% a menos de cinco quilómetros.
“Apesar dos compromissos internacionais para mitigar a perda de biodiversidade, instalações de armazenamento de resíduos de mineração continuam a ser estabelecidas dentro de áreas protegidas”, revelam no artigo.
Bora Aska, primeira autora, explica que esses resíduos resultam do processamento dos minerais extraídos da terra e que a investigação sugere que “ameaçam a biodiversidade dentro de áreas protegidas em todo o mundo”. A título de exemplo, os investigadores apontam o caso de oito armazéns de resíduos de mineração em áreas protegidas na Austrália, zonas essas que são reconhecidas pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).
Essas instalações são por vezes constituídas por espécies de barragens além das quais são descartados esses resíduos. Os cientistas lembram, em comunicado, que, em 2015, 19 pessoas morreram no Brasil depois de um desses açudes ter colapsado, libertando “uma onda gigante de resíduos de mineração” que se abateu sobre aldeias, culturas e cursos de água.
Em 2019, o mesmo voltou a acontecer, dessa feita no município brasileiro de Brumadinho, onde morreram 270 pessoas e foram destruídos 133 hectares de Mata Atlântica e 70 hectares de áreas protegidas que se encontravam a jusante da instalação de armazenamento.
Por isso, Aska diz que “dado o tamanho das instalações de resíduos de mineração, estamos preocupados com os futuros riscos de falhas em áreas importantes para a biodiversidade e para a conservação de espécies”.
E a ameaça só deverá aumentar nos próximos anos, uma vez que tudo indica que os resíduos da exploração mineira deverão aumentar “significativamente” até 2050, aponta Laura Sonter, outras das autoras do artigo, “devido à crescente procura por metais para a transição energética”.
“Considerando a atual distribuição global de instalações de armazenamento de resíduos de mineração e a sua taxa de falhas, as consequências para a biodiversidade podem ser devastadoras”, alerta, apontando que é urgente “mitigar completamente os impactos negativos dos resíduos da mineração sobre as pessoas e sobre o ambiente”.
Os investigadores defendem que é preciso repensar a forma como se desenham e constroem essas instalações, bem como os locais onde essas são colocadas, pois, lamentam, atualmente a biodiversidade “raramente” é tida em conta “quando se avaliam e categorizam os riscos representados por instalações, novas ou existentes, de armazenamento de resíduos minerais”.