Rio Tamisa em declínio? Mais de 90% dos moluscos nativos desapareceram nos últimos 60 anos, revela estudo
Desde 1964 que as populações de moluscos no Rio Tamisa, no Reino Unido, têm vindo a sofrer grandes alterações, sendo que as espécies nativas registam declínios “graves” e apresentam dimensões mais reduzidas do que seria de esperar.
Dois cientistas da Universidade de Cambridge, replicando um levantamento da década de 1960 dos moluscos desse rio britânico, descobriram que quase 95% das populações desses invertebrados desaparecerem do Tamisa, sendo que uma espécie, o Pseudanodonta complanata, terá mesmo desaparecido por completo desse rio.
Apesar de a sua aparência singela poder convidar à desconsideração por parte de um observador incauto, os moluscos desempenham um papel de grande relevância nos ecossistemas de água doce, pois atuam como filtradores da água, removendo as algas que são a base da sua alimentação.
Por serem filtradores, explicam dos especialistas, os moluscos estão mais expostos do que outros seres vivos a fatores como a presença de poluentes, pelo que podem ser considerados como indicadores valiosos da saúde de rios e lagos.
Além das perdas de números, a investigação, cujos resultados foram publicados na revista ‘Journal of Animal Ecology’, permitiu também perceber que os moluscos que restam, além de poucos, são mais pequenos do que seria de esperar. A hipótese avançada pela dupla científica aponta, contudo, para uma causa peculiar: a redução da poluição por descargas de esgoto.
“Desde 1964, os níveis de nitratos e de fosfatos na água do rio caíram devido à regulamentação mais apertada do tratamento dos esgotos”, explicam, fazendo com que o Tamisa esteja a regressar a um estado mais ‘natural’.
Com a redução das concentrações de fosfatos e nitratos, é reduzida também da taxa de proliferação das algas de que dependem os moluscos para se alimentarem, pelo que, argumentam os autores, esta poderá ser uma causa da diminuição das populações desde os anos de 1960.
Ainda assim, David Aldridge, um dos autores do artigo, aponta que “este declínio dramático das populações de moluscos nativos é muito preocupante, e não estamos certos de qual poderá ser a causa”.
Isobel Ollard, que também assina o artigo, assinala que “uma tão grande quebra da biomassa de moluscos no rio [Tamisa] deverá também ter um efeito negativo noutras espécies, reduzindo, de forma geral, a biodiversidade”. E acrescenta que o Pseudanodonta complanata “costumava ter uma distribuição bastante ampla no Tamisa, mas este levantamento não encontrou um único, o que levanta receios quanto a sobrevivência desta espécie”.
Além disso, o estudo concluiu que a população de Anodonta anatina caiu para somente 1,1% face aos anos de 1960, e a de Unio pictorum para 3,2% durante o mesmo período.
O estudo identifica também a presença de espécies invasoras de moluscos, que estavam ausentes do levantamento os anos 60, como o Dreissena polymorpha e Corbicula flumínea, e que poderão ser também um dos fatores que tem feito diminuir as populações dos moluscos nativos. Outras explicações possíveis prendem-se com as alterações das populações de peixes no Tamisa ou com a utilização das terras ribeirinhas, que podem estar a impactar negativamente o rio e, assim, os seus habitantes.