Rita Nabeiro: “A nossa casa está a arder e muitos agem como se nada fosse”



Casa cheia na Conferência BCSD Portugal – Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável, 2025, o evento do BCSD Portugal com maior expressão, que decorreu na Casa da Música, Porto, foi divulgado em comunicado.

Segundo a mesma, com o tema “Empresas com Visão – Liderar e agir num mundo em mudança“, e destaque para ferramentas disruptivas e inovadoras que poderão ajudar a concretizar as melhores estratégias de sustentabilidade, a Conferência iniciou com um poema intimista da rapper, letrista e cronista Capicua, sobre a sobrevivência da Humanidade em tempos incertos, através do respeito pela Natureza.

Rita Nabeiro, Presidente do BCSD Portugal, deu as boas-vindas aos cerca de mil participantes, apelando aos oradores para provocar, inquietar e motivar os participantes a identificar o seu papel no mundo, inspirados pelo propósito do BCSD Portugal, de “transformar a economia ao serviço da sociedade e do planeta”. Com especial destaque para as alterações climáticas, Rita Nabeiro fez referência a “fenómenos cada vez mais erráticos, como períodos de seca prolongada, chuvas torrenciais e ondas de calor extremo”, e o seu “papel acelerador no desequilíbrio de todo o sistema terrestre, que pode arruinar”.

Da subida do nível do mar, à alteração das correntes oceânicas, até aos impactos geopolíticos, a presidente do BCSD Portugal alertou ainda para o “risco de perda de 75% da massa de neve até ao final do século, causando inundações e escassez de água para mais de 240 milhões de pessoas”. Referiu também que, ao ritmo atual, apenas 3 dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU poderão ser alcançados até 2030.

Reforçou ainda a urgência em agir: “a nossa casa está a arder e muitos agem como se nada fosse. Em paralelo, em diversas geografias e setores, assistimos a uma desregulação e a um retrocesso preocupante em políticas ambientais e de diversidade, equidade e inclusão. Iniciativas que foram construídas com esforço e sentido de justiça, e que hoje estão a ser desvalorizadas, postas em causa ou mesmo desmanteladas. Assiste-se agora ao fenómeno do greenhushing, o receio de se comunicar ações sustentáveis por medo de críticas, escrutínio e intimação, que na União Europeia está a adiar a entrada em vigor do reporte de sustentabilidade e consequentemente o compromisso de algumas empresas”.

Rita Nabeiro finalizou a sua intervenção com um apelo ao compromisso e à liderança pelo exemplo, destacando o BCSD Portugal como “a voz estratégica junto de decisores públicos, investidores, academia e sociedade civil, que promove a inovação e a colaboração entre empresas, start-ups, centros de investigação e investimento de impacto, através de uma comunicação clara e mobilizadora, coerente com os princípios defendidos”.

Filipa Pantaleão, Secretária-Geral do BCSD Portugal, desafiou os participantes a pensar conjuntamente no futuro das práticas ESG (Ambiental, Social e Governança), defendendo que é necessário “uma responsabilização perante o que estamos a causar no mundo, seja em termos de consumo, utilização de recursos, prevenção, maximização da eficiência energética, aumento das energias renováveis, e sempre com justiça e equidade”.

“A sustentabilidade está a evoluir. Portugal tem feito um caminho positivo na redução de emissões, na produção de energias renováveis e através de investimentos de cerca de dois mil milhões de euros em projetos na área da sustentabilidade”, acrescentou, terminando com a proposta de adesão das lideranças ao CSO Circle, a comunidade BCSD que reúne Chief Sustainability Officers para empoderar, apoiar e capacitar quem ocupa este cargo.

As sessões do dia iniciaram com a intervenção de Fernanda Torre, CEO Next Agents, COO Boards Impact Forum, com o tema “Inovação para a sustentabilidade”. Foi dado destaque à necessidade de um trabalho continuo e diferenciador de fusão entre inovação e sustentabilidade, um investimento que possibilitará a sobrevivência das empresas.

O tema seguinte, “Felicidade e bem-estar no local de trabalho”, foi apresentado por Madalena Carey, ‍CEO da Happiness Business School, que analisou o esforço das empresas em proporcionar aos colaboradores um bom ambiente de trabalho, que é insuficiente perante a falta de saúde mental generalizada. De acordo com Madalena Carey, “a felicidade organizacional não é um programa, é uma cultura. Não há empresas saudáveis com colaboradores doentes, não há colaboradores saudáveis com empresas doentes. Não há empresas e colaboradores saudáveis num planeta doente”.

“A importância de investir nos IDG – Inner Development Goals” foi o tema apresentado por Åsa Jarskog,
‍Lead, Institutionalisation, IDG-Centres and Policy Development, aprofundando as suas cinco dimensões – Ser (Being), Pensar (Thinking), Relacionar-se (Relating), Colaborar (Collaborating) e Agir (Acting) – em resposta ao facto de não estarem a ser alcançados os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.

No painel “AI como chave para mitigar alterações climáticas”, com Joe Paton, ‍Diretor do Programa de Investigação em Neurociências da Fundação Champalimaud, e Roland Thompson, Business Development Manager da Greyparrot, debateram-se as implicações da IA e das novas tecnologias no desenvolvimento sustentável.

A segunda parte da Conferência iniciou com “Dose de Energia”, um momento de standup com João Cruz, Diretor de Operações do BCSD Portugal, que introduziu a sessão interativa “Relato e transparência”, com Tiago Carrilho, Diretor de Conhecimento e Formação do BCSD Portugal, e Daniela Lima, ‍Gestora de Conhecimento e Formação do BCSD Portugal. Um formato disruptivo que abordou as tendências de reporte de sustentabilidade a nível mundial, com intervenções de Emily Grady (WBCSD), Pedro Faria (EFRAG), Gabriella Tammaro (EcoVadis), Laetitia Arrighi de Casanova (B Lab), e Sandrine Dixson-Declève (Clube de Roma).

Seguiu-se a conferência silenciosa, um conceito que permite aos participantes assistirem aos diferentes painéis que decorrem em simultâneo em palco:

  • “Finanças e Seguros”, com Cláudio Pimentel (Cofidis), Filipa Saldanha (Crédito Agrícola), Margarida Soares (Nextbitt), e moderação de Ângela Lucas (Land Fund), ou “Indústria” com Anabela Gomes (Lactogal), Jose B. Carbajo (Bondalti Water), Maria Helena Almeida (Sonae/BB&G), e moderação de Ana Tavares (RDD Textiles);
  • “Energia” com Fernando Rocha (Energia do Porto), José Barbosa (NTT Data), Liliana Benites (EDP), Tito Lemos (Greenvolt Comunidades), e moderação de Maria João Coelho ELECPOR), ou “Retalho e Logística” com Eunice Maia (Maria Granel), Inês Vieira (PRIO Green), João Lavos (Leroy Merlin), e moderação de Luísa Magalhães (Smart Waste Portugal);
  • “Construção” com Benedita Chaves (Lipor), Conceição Magalhães (Brisa Infraestruturas e Operação), Pedro Lopes (Grupo Casais Blufab), e moderação de Gil Ferreira da Silva (Basestudio), ou “Serviços e Tecnologia”, com José Freitas (Kaizen Institute), João Vale (Schneider Electric), Kayo Ribeiro (Fujitsu), e moderação de Pedro Gaspar (CEiiA).

A Conferência BCSD Portugal 2025 foi encerrada por Paulo Azevedo, Chairman da Sonae, que se debruçou sobre os temas “Sustentabilidade global – impacto local” e “O papel fundamental da biodiversidade”, em que destacou a necessidade de foco no restauro e conservação da Natureza: “estamos perante um desafio que está muito além das nossas capacidades, e temos a obrigação de fazer todo o trabalho possível de adaptação e mitigação, que nos vai dar mais probabilidade de resolvermos o problema”.

 






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